Ciro Gomes é experiente e ressabiado e sabe que os petistas não cumpririam acordo proposto pelo ex-presidente Lula. Foto: Divulgação.

O jornalista Elio Gaspari, em sua coluna publicada em jornais nacionais do Rio de Janeiro e São Paulo, última quarta-feira (03), com o título: “Ciro Gomes está na pista”, enfatiza a postulação presidencial de Ciro, em 2022, citando uma declaração anterior do cearense sobre sua disposição de enfrentar o PT, para dizer que com ela acabou o “capítulo da relação de amor e ódio” dele com os petistas: “Quem for contra o Bolsonaro no segundo turno tem a tendência de ganhar a eleição. O menos capaz disso é o PT. Por isso, a minha tarefa é necessariamente derrotar o PT no primeiro turno“.

Nos últimos dias, como aqui já tratado, importantes petistas fizeram declarações públicas sobre a sucessão presidencial de 2022 referindo-se a Ciro Gomes. As primeiras foram do ex-presidente Lula, ao apontar Haddad como o candidato do PT à sucessão do presidente Jair Bolsonaro (ainda sem partido). Depois, na mesma direção, foram as manifestações do próprio Haddad, relembrando o episódio de 2018, quando, no segundo turno da disputa, Ciro que havia ficado em terceiro lugar preferiu ir para exterior ao invés de apoiá-lo contra Bolsonaro. E por último, mais enfáticas, foram as afirmações do senador Jaques Wagner.

Ele descarta aliança com Ciro sob a alegação de este defender o isolamento do PT. Na verdade, os discursos dos petistas estão em uma única direção: inibir Ciro, ao tempo que consolidam argumentos para, no caso de um sucesso eleitoral de Bolsonaro, responsabilizá-lo pelo insucesso da oposição. O discurso do ex-presidente Lula na defesa de várias candidaturas de oposição com o compromisso de apoiar qualquer delas guindado ao segundo turno da eleição é maquiavélico. Lula sonha em livrar-se das condenações judiciais e ele próprio ser candidato tendo o compromisso de todos votarem nele num possível segundo turno.

Tem sentido a afirmação de Ciro de ser o PT, ele não fez exceção de nomes, portanto incluindo Lula, o “menos capaz” de derrotar Bolsonaro. Embora seja a principal liderança do partido, Lula acaba sendo mais desgastado que a própria agremiação, posto todas as acusações recebidas, algumas delas resultantes das suas condenações judiciais e a prisão que  cumpriu. Inegável que o PT ainda é uma das mais fortes agremiações oposicionistas, mas o desgaste experimentado desde o Mensalão, e agora com a Lava Jato, distanciaram os seus tradicionais aliados e enfraqueceram suas lideranças nacionais.

Não existe na política o impossível. Mas como disse o jornalista Elio Gaspari, findou o “capítulo da relação de amor e ódio” entre Ciro e Lula, e este, ao menos na próxima eleição, dificilmente terá o apoio de Ciro, para si ou alguém por ele indicado. Também não surtirá efeito o discurso petista de tentar inibir o cearense. Este, experiente e ressabiado, sabe que os petistas não cumpririam o acordo proposto por Lula, para todos os oposicionistas votarem, no segundo turno, no candidato que for disputar com Bolsonaro, se aquele for o próprio Ciro.

Hoje, pelo nível de confronto entre os dois, apesar dos discursos em contrário, Lula e Ciro querem a derrota um do outro. Este, pelo apoio dado àquele ao longo de aproximadamente duas décadas, sentir-se traído por aquele que, mesmo preso, conseguiu impedir alianças para sua postulação em 2018. E Lula por ter ciência de que Ciro, eleito presidente, passaria a ser a principal liderança nacional do campo político mais à esquerda.

O jornalista Edison Silva comenta os desentendimentos entre Ciro Gomes (PDT) e os petistas: