Mulheres ocupam apenas cinco das 46 vagas no parlamento estadual do Ceará. Foto: ALECE.

A pandemia de Covid-19 alterou a vida da população mundial há um ano e, para as mulheres, impôs uma situação de maior vulnerabilidade em questões sociais, emocionais, de segurança, saúde e trabalho. Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, as cinco deputadas da Assembleia Legislativa do Ceará comentam como percebem os impactos deste período na vida das mulheres.

Pesquisas reforçam que o período de isolamento social trouxe desafios ainda maiores para o universo feminino, como as violências física, sexual, psicológica e patrimonial, sofridas.

Violência

Um levantamento do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem), da Defensoria Pública do Ceará, mostra que de janeiro a dezembro de 2020, 11.803 atuações para assistência jurídica e psicossocial de mulheres vítimas de violência foram realizadas no Estado.

A Procuradora Especial da Mulher da AL, deputada Augusta Brito (PCdoB), confirma que a violência é uma questão que vem preocupando durante a pandemia e demanda ainda mais atenção e ação.

Segundo a parlamentar, desde o primeiro período de isolamento social rígido no Ceará, em abril de 2020, foi percebida uma grande procura e necessidade de acompanhamento de casos por parte da Procuradoria Especial da Mulher da AL.

“Neste momento de medidas mais rígidas de isolamento, a preocupação segue”, acentua. E a atuação da Procuradoria deve ficar ainda mais forte, uma vez que está sendo implementada uma reestruturação, que inclui diferentes núcleos de atendimento e novo prédio para atendimentos.

A Procuradoria também planeja disponibilizar ferramentas como um disque-denúncia e um número de WhatsApp, disponível 24 horas, para o acolhimento de denúncias e atendimentos.

Dados das secretarias de Segurança dos Estados e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública demonstram que estar mais próximas do agressor, em um maior período de tempo, e ter menos acesso aos serviços de atendimento e denúncias, colaboram para o aumento da violência no isolamento social.

Desigualdade

Para a deputada Erika Amorim (PSD), “a pandemia, de fato, afetou muito mais as mulheres. É nítido o aumento das desigualdades e violência contra as mulheres em todos os lugares do mundo”.

Ela reforça que “com o isolamento, os índices de violência doméstica e feminicídio têm aumentado no mundo. Como as mulheres estão confinadas com seus agressores e distantes do seu ciclo social, os riscos para elas são cada vez mais altos”.

A parlamentar cita dados ainda do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que apontam que entre abril de 2019 e abril de 2020, houve um aumento de 40% de denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180.

Ela ressalta também o peso da jornada exaustiva que algumas mulheres enfrentam, se dividindo entre emprego fora de casa, trabalhos domésticos, cuidados com os filhos.

Para a parlamentar, os desafios da mulher não se limitam ao campo particular, mas se estende também à esfera pública. “É importante frisar que nós, mulheres, não estamos na esfera de poder de decisão na pandemia. Somos apenas 25% dos parlamentares em todo o mundo e menos de 10% dos chefes de Estado ou de Governo”, pontua.

Presença em família

A deputada Dra. Silvana (PL) comenta que a violência já aumentou e tende a crescer ainda mais, como os casos de feminicídios. Para a parlamentar, a convivência mais próxima e contínua é um dos fatores para o acréscimo de casos na pandemia.

Dra. Silvana afirma que a pandemia afeta a vida de todas as pessoas. “Infelizmente não se aprendeu ainda a lidar com uma doença que vai ficar mais tempo entre nós”, acrescenta. Apesar dos impactos na vida de todos, a parlamentar aponta aspectos que considerada positivos, como a maior presença da mulher na família. “Isso sem nenhuma dúvida, será um ponto positivo para as famílias”, acentua.

Sobrecarga de trabalho

A deputada Aderlânia Noronha (SD), comenta que, historicamente, a mulher é convocada para exercer diversas tarefas, como a jornada dupla de trabalho, por exemplo. E, com o aprofundamento dessa grave e dramática crise sanitária no Brasil e no mundo, “o papel da mulher torna-se absolutamente relevante e imprescindível”, pontuou.

Em momentos extremos, como o que agora atravessamos, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, a mulher é quem mantém o equilíbrio emocional e muitas vezes cuida de pessoas doentes ou de risco da família. E, como se não bastasse, com o isolamento social mais rigoroso, ela fica vulnerável a situações mais frequentes e mais graves de violência doméstica”, pondera.

Rotina

A deputada Fernanda Pessoa (PSDB) avalia com preocupação o impacto da pandemia na rotina das mulheres, assim como nas relações familiares, sociais e na saúde emocional. A parlamentar assinala que as mulheres vêm enfrentando uma sobrecarga de trabalho ainda maior durante este período, vivendo complexas situações para conciliar o trabalho, a família e o isolamento, o que causa mais estresse e pressão.

Para a deputada, é preciso ter esperança de que dias melhores virão, assim como que a sociedade se adaptará aos cuidados preventivos necessários.