Maia reunido no Palácio da Abolição com lideranças políticas do PDT e do PT. Foto: Divulgação.

Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, está deixando o DEM. Ele era uma das lideranças com as quais o grupo governista do Ceará tratava, tendo os irmãos Ciro e Cid Gomes à frente, não só para compatibilizar os interesses mútuos de DEM e PDT no nosso Estado, mas, também, em outras localidades, como foi o caso de Salvador, nas eleições municipais passadas, onde o PDT abriu mão de ter candidato a prefeito para indicar a vice do atual prefeito, Bruno Reis, nome do próprio ACM Neto. A perspectiva dos cearenses era a de uma aliança nacional em 2022, com outras agremiações, apoiando a candidatura de Ciro.

Maia, em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira (08), mesmo afirmando que sai, sem briga, do partido, foi ríspido nas críticas ao comportamento do presidente nacional do DEM, ACM Neto, a quem ele responsabiliza por ter quebrado o acordo de o partido apoiar a candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB/SP), indicado por Maia à presidência da Câmara, no início deste mês de fevereiro. Para Rodrigo Maia, ACM Neto não tem “caráter”.

E foi mais além. “Não conversei mais com o Neto. Diferentemente do que ele imagina, na verdade o que o Bolsonaro conseguiu foi quebrar a nossa coluna, que era toda acordada, de que nunca estaríamos no governo Bolsonaro e nunca apoiaríamos o Bolsonaro. Isso eu ouvi do presidente ACM Neto centenas de vezes. A direita está no DNA dele, mas sem o talento do avô (Antônio Carlos Magalhães) e do tio (Luis Eduardo Magalhães), que nunca teriam feito o que ele fez. Não podia imaginar que um amigo de 20 anos ia fazer um negócio desses”, enfatizou o Rodrigo dissidente.

O DEM não desaparecerá com a saída das suas fileiras o deputado Rodrigo Maia. O partido, com todas as ressalvas que se lhes possa fazer, é bem maior que ambos (Maia e ACM Neto). Eles, de certa forma já estavam divergindo há algum tempo. O protagonismo de Maia, enquanto presidente da Câmara Federal, ofuscou o comando de ACM Neto, mesmo sendo o dirigente primeiro da agremiação e também prefeito de uma cidade importante como é Salvador. Neto mostrou ser de fato presidente do partido exatamente no momento em que Maia sofria o mais duro golpe de Bolsonaro, seu adversário primeiro na disputa pela presidência da Câmara.

Menor, pois outros deputados devem acompanhar Maia, o DEM deixará de ter a importância sempre experimentada desde quando criado, ainda no período da Revolução de 1964, quando acabou a Arena (Aliança Renovadora Nacional), dando vida a ele e ao extinto PDS. Embora o partido ainda tenha o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (MG), tem carência de quadros nacionais, como os próprios avô e tio de ACM Neto, citados por Maia, capazes de manter a agremiação no pequeno grupo de siglas com filiados em condições viáveis para uma disputa presidencial.

Maia, com a candidatura de Baleia Rossi à Presidência da Câmara, esperava, por certo, estar com o DEM no seleto grupo de opositores à postulação do presidente Bolsonaro a continuar presidente da República, a partir de 2023. Restou frustrado com a posição do próprio partido, a derrota de Rossi, e com espaço menor para continuar as articulações que fazia para montar uma chapa presidencial sem os radicalismos de direita ou de esquerda.

Vaja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o futuro do DEM no País: