FHC: “Espero que o PSDB não esteja em seu ciclo descendente”. Foto: Ascom/PSDB.

Na última quarta-feira (03), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das principais lideranças do PSDB nacional, passou a ideia de estar desconfortável com as posições adotadas por correligionários seus, representantes da sigla no Parlamento, com consequências imprevisíveis para as pretensões futuras da agremiação. A manifestação de Fernando Henrique está ligada à eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, no primeiro dia deste mês de fevereiro, quando foram consideradas claudicantes posições de representantes da sigla.

O ex-presidente fala da necessidade de o PSDB “tomar um rumo”. Os partidos, diz ele, “têm seus ciclos. Espero que o PSDB não esteja em seu ciclo descendente. Mas, se estiver, pobre do PSDB”. Os partidos, de fato, precisam ter posições claras, notadamente quanto à condição de aliado ou opositor. Os tucanos, como são conhecidos os filiados ao PSDB, na disputa presidencial de 2018, foram fragorosamente derrotados. Geraldo Alckmin, o ex-governador de São Paulo, foi o quarto colocado na disputa, ficando atrás de Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes.

No Ceará, também o resultado eleitoral de 2018 foi decepcionante para o PSDB. O general Guilherme Theophilo, disputando o Governo do Estado, não conseguiu somar 500 mil votos, enquanto Camilo Santana passou dos 3 milhões de sufrágios. Pífios, também, foram os números de votos que o partido conquistou no Ceará para eleger deputados federais e estaduais. E, pior, em 2020, os tucanos cearenses sequer tiveram condições de ter candidato à Prefeitura de Fortaleza, o maior colégio eleitoral do Estado. Até que tentou, mas a resposta do eleitorado foi negativa mesmo antes de o pretenso candidato oficializar sua postulação, e à agremiação não restou outra alternativa senão a de apoiar o candidato do PDT.

O PSDB teve medo de fazer oposição ao PT quando para este perdeu a disputa presidencial. Hoje, pelos posicionamentos dos seus parlamentares e outras lideranças, é um partido amorfo. Os tucanos, no entendimento de Fernando Henrique, se decidirem “ser contra o que está acontecendo no governo atual, tem que mostrar claramente isso. Tem de tentar ganhar a população. Pode ganhar, pode não ganhar. Depende do jogo eleitoral e partidário. Mas tem de ter posição clara. Em política, não tem esse negócio de ficar enrustido. É cartas na mesa.”

Nascido com a dissidência de alguns políticos de São Paulo, a partir do ex-governador paulista, Franco Montoro, à época filiados ao MDB, o PSDB descaracterizou-se ao longo dos últimos anos, sobretudo quando figuras exponenciais dos seus quadros, como Aécio Neves e José Serra, dentre outros, passaram a figurar em listas de políticos envolvidos em ações delituosas.

Hoje, também por não reagir contra suas lideranças envolvidas na vala comum do mundo da corrupção, a agremiação, modelo no seu nascedouro, não gera perspectiva de voltar a ser o que era antes, a partir da escassez de lideranças nacionais expressivas, posto ter apenas os governadores de São Paulo, João Dória; e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como suas mais importantes figuras.

Em determinado momento, o Ceará, com Tasso, Ciro, e vários deputados federais e senadores, era o segundo Estado brasileiro com a maior concentração de tucanos. Hoje, o partido tem aqui ainda senador, deputado federal e estadual, mas apenas um deles é realmente tucano: Tasso Jereissati. Os demais estão na sigla pelas conveniências locais, sem qualquer afinidade com os estatutos da agremiação, e, totalmente dissociados da orientação estadual tucana, chegando ao ponto de o partido ser Governo e eles serem oposição.

Jornalista Edison Silva comenta o definhamento do PSDB nacional e no Ceará: