Foto: Reprodução da página do jornal O Globo.

Antes de o senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) ter concedido uma entrevista ao jornal O Globo, no último domingo (14), onde afirma que “todos os partidos, todos, foram triturados ou tratorados pelo processo eleitoral de Senado e Câmara”, referindo-se às eleições dos presidentes das duas Casas do Congresso Nacional, o ex-senador Mauro Benevides publicara no jornal O Estado, na quarta-feira (10), relato de uma abordagem feita pelo ex-governador Virgílio Távora, em nome do ex-senador Petrônio Portela, à época o civil de maior prestígio com os generais da Revolução de 1964. Eles queriam Mauro fora do MDB e filiado à Arena.

Mauro, aceitando a proposta, como relata no artigo com o título “Um convite honroso que rejeitei por imperativo ético”, seria candidato a governador do Estado do Ceará, com muito boas perspectivas de ser eleito, como foram todos os indicados pelos militares que, no regime de exceção, comandaram o País. Posteriormente, para manter o MDB vivo, ele foi candidato a governador em 1982 e perdeu para Gonzaga Mota, nome de Virgílio Távora, apoiado pelo esquema militar da época. Antes, em 1974, sempre pelo MDB, foi eleito pela primeira vez senador. Virgílio ajudou a elegê-lo para derrotar Edilson Távora, indicado pelo ex-governador César Cals, do mesmo partido da Revolução de 1964, mas adversário e inimigo de Virgílio.

Mas que ligação entre as declarações de Tasso sobre os partidos terem sido “tratorados” nas eleições das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal com a postura de Mauro Benevides? É que no passado, políticos não se vendiam com tanta facilidade, mesmo que fosse para ser governador do seu Estado. Eles tinham compromissos com os partidos. Com todos os defeitos que tinham, se realmente tinham, políticos da UDN e do PSD (o de antes de 1964) foram exemplos de fidelidade partidária.

Os partidos citados pelo senador Jereissati não foram triturados agora. De há muito eles não merecem o respeito da sociedade e, em várias situações, dos seus próprios filiados e detentores de mandatos. Os acordos não cumpridos para as eleições das mesas da Câmara e do Senado foram firmados com os partidos e desrespeitados por parte de filiados, aqueles que, sem qualquer cerimônia, cedem a um simples aceno de uma benesse governamental, e os partidos os mantêm nas suas fileiras, como os albergam, também, com algumas exceções, quando cometem delitos e são alcançados pelo Ministério Público e o Judiciário.

Para Tasso, este é “um bom momento para o PSDB se reconstruir“. Recentemente, também em entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique, nome de destaque no ambiente tucano, recomendou, em tom de lamentação, ao partido uma tomada de rumo, em razão da posição de alguns dos parlamentares da sigla na eleição da Mesa da Câmara dos Deputados, acrescentando os partidos “têm seus ciclos”. “Espero que o PSDB não esteja em seu ciclo descendente. Mas, se estiver, pobre do PSDB”. Lamentavelmente está. Como de resto várias outras agremiações, para decepção de todos quantos desejam que a Democracia seja realmente sustentada pelos partidos, pois só deles saem os integrantes do Parlamento.

E se eles aceitam, sem reagir, às violações aos seus programas, às deliberações de seus dirigentes e as afrontas aos princípios éticos mínimos necessários ao exercício condigno de um mandato parlamentar ou no Executivo, contribuem, posto passarem a ideia de conivência, com a prática imoral e afrontosa da compra e venda de votos, como a denunciada na recente eleição dos dirigentes do Congresso Nacional.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre a falta de liderança e de credibilidade dos partidos políticos do Brasil: