Carlos Mesquita lembrou que o presidente do PSC, pastor Everaldo,  foi preso, mas governistas não fizeram uso político do caso. Foto: Reprodução/Youtube.

O uso político das religiões, em especial da evangélica, no pleito eleitoral deste ano em Fortaleza tem gerado muito embate entre vereadores da base governista e opositores. O estopim do atrito entre pentecostais e neopentecostais na Câmara Municipal se deu após envolvimento de pastores e fiéis na distribuição de panfletos apócrifos com críticas e notícias falsas à candidatura do prefeito eleito, Sarto (PDT), e a parlamentares da base aliada.

De acordo com a base governista, cartazes teriam sido distribuídos em igrejas a mando de algumas lideranças religiosas com interesse no pleito eleitoral. Um dos vereadores que tem levantado essa tese é o vice-presidente da Mesa Diretora, Adail Júnior (PDT). Ele menciona, ainda, vídeos em que o pastor e vereador eleito Ronaldo Martins (Republicanos) estaria insuflando fiéis contra candidaturas governistas.

“É de dar vergonha o que alguns pastores fizeram. Disseram que nós iríamos votar contra cultos campais, contra missas abertas. Como é que eles não têm vergonha disso? Isso é pilantragem, é vagabundagem”, disse Adail Júnior.

Também membro da Mesa Diretora, o vereador Gardel Rolim (PDT), que é evangélico, afirmou ter tido o apoio de vários pastores, mas destacou que muitos foram induzidos ao erro das “fake news” por “boa fé”.

“Alguns candidatos a vereador mentiram muito. Usaram muitas fake news e os evangélicos foram ludibriados. Eu recebi áudios de pastores perguntado que lei a Câmara tinha que iria proibir cultos ao ar livre, porque um determinado candidato foi à igreja dele dizendo que iríamos aprovar uma lei proibindo cultos e missas ao ar livre”, denunciou.

Além de Gardel, outros vereadores da base governista, como o presidente da Mesa Diretora, Antônio Henrique (PDT), e Mairton Félix (PDT) também são evangélicos atuantes, e se sentiram prejudicados com as ações de seus adversários usando da religião para atacá-los.

“Eu sei que nós não somos contra a família cristã. Quando um panfleto fala em grupo político sem especificar quem, tá falando de mim também, porque faço parte desse grupo político”, disse Rolim, afirmando que a base aliada terá que tentar desfazer, junto à população, a imagem que foi criada através de notícias falsas.

Integrante da igreja Assembleia de Deus e uma das principais defensoras das ideias bolsonaristas na Câmara Municipal de Fortaleza, a vereadora Priscila Costa (PSC) se sentiu ofendida com as falas de alguns colegas contra pastores. A parlamentar chegou a dizer que o PDT defende o que ela denomina como “ideologia de gênero” e citou matéria em que a futura primeira-dama da cidade, Natália Herculano, se posiciona como defensora dos direitos da população LGBTQ+.

“Parece que veio ordem lá de cima para atacar pastor. Pode chamar pastor do que for, mas enquanto desrespeitar cristão nessa Casa, eu vou me levantar, não vou me calar”, disse. “O compromisso do Sarto com a ideologia de gênero é pessoal e íntimo. A senhora Natália Herculano se apresenta como ativista LGBTQI+. Ela tem o direito de militar por essa causa, agora quando o cristão diz que esse grupo afronta a família e abraça a erotização de crianças, e depois ser chamado de ‘fake news’, e pastor ser chamado de canalha, não vou admitir”.

Em resposta à Priscila, o vereador Carlos Mesquita (PDT) lembrou que o presidente nacional do PSC, o pastor Everaldo, foi preso e isso não foi usado pelos governistas para atacar a parlamentar no processo eleitoral. O PSC é presidido pela parlamentar em Fortaleza.

“Em nenhum momento viemos dizer da prisão do pastor para denegrir sua imagem ou sua igreja que poderia ter afetado seu mandato. Ele não é só presidente nacional do PSC, ele é pastor também. Ninguém veio aqui desqualificar o apoio do PSC”, afirmou.

“Existe mesmo muito pastor que usa o nome de Deus para ganhar dinheiro, para corromper, para pedir favor, e chegando lá diz que a comunidade vota em determinado candidato. Vendem seus fiéis seguidores da igreja por uma coisa particular, às vezes, nem para a igreja é” – (Carlos Mesquita)

O líder do Governo, Esio Feitosa (PSB), também criticou a postura de alguns colegas durante a campanha eleitoral, pois segundo ele, muitos foram responsáveis pela “politicagem” ocorrida nas eleições, especialmente, no segundo turno da disputa. Conforme informou, além de intimidações por parte de alguns policiais, as notícias falsas predominaram até o último momento do pleito de domingo passado (29/11).

“Todos nós tomamos conhecimento de panfletos apócrifos de que essa Casa fecharia templos evangélicos. Eu tenho o maior respeito pelo povo de Deus, até porque me incluo nele. Mas é vergonhoso que alguns que sobem à tribuna para falar de Deus usem de expediente tão baixo”, criticou.