Para a professora, os partidos têm a missão de capacitar as mulheres para esse mundo de disputa de poder. Foto: Reprodução/Blog do Edison Silva.

A cientista política, Carla Michele, mestra em Sociologia e professora universitária, em entrevista ao Blog do Edison Silva, afirmou que a participação feminina na política é um desafio. Tendo em vista que o eleitorado brasileiro é majoritariamente feminino, cerca de 52,5%, a realidade das mulheres no Congresso Nacional é outra, aproximadamente 16,2% dos assentos são ocupados por elas.

Essa baixa participação indica que os partidos políticos são os grandes responsáveis por fornecer educação política para que as candidatas conheçam as funções de cada cargo, tenham noção de orçamento e de administração pública, além de prover condições financeiras suficientes para as campanhas eleitorais.

”Nós precisamos ter uma participação mais efetiva das mulheres porque existem pautas específicas que devem ser defendidas por pessoas que tenham a sensibilidade de entender o universo feminino”, disse a professora. Ela conta que as mulheres têm condições de apontar alternativas para assuntos específicos, não tão recorrentes dos parlamentares que dirigem a maior parte das Casas Legislativas.

Michele acredita que o fim das coligações partidárias para cargos proporcionais seja um passo para o aperfeiçoamento do modelo da democracia representativa, possibilitando também maior esclarecimento para o eleitor sobre questões ideológicas do próprio partido político, haja vista que as antigas alianças de partidos, muita das vezes de posicionamentos contrários, confundiam o entendimento do eleitorado.

”Ao votar nós devemos nos aproximar daquilo que nós consideramos ideal de sociedade. Devemos votar em ideias, em projetos, em construções coletivas e não em pessoas, individualmente”, expôs a cientista.

Com o passar dos anos é possível afirmar que houve aumento da quantidade de mulheres dentro do espaço político brasileiro. Desde a implementação do voto feminino em 1932, as transformações ocorreram, porém o seu avanço caminha de forma lenta e não satisfatória.

Carla diz que a política, desde sua gênese, é dominada por homens, e que no seu surgimento a sociedade via as mulheres como objeto e obviamente as impossibilitavam de participar de decisões dentro do espaço público. ”Ainda há um longo caminho a ser percorrido”, afirmou a professora. ”Nós não podemos desvalorizar o instrumento [cota de gênero] em virtude  das práticas que ainda insistem em manter uma visão tradicional, patriarcal da atividade política”, completou.

”O desafio é muito grande, porque ele tem ainda a ver com questões culturais. Nós crescemos na nossa sociedade negando a política, desde muito cedo, as pessoas nos dizem que a política é de gente que não presta, coisa de gente que tá ali para ocupar o poder, associando a coisas negativas”, explica Carla. Ela complementa dizendo que esses fatores fazem com que as mulheres não se sintam encorajadas em participar desse espaço dominado por disputa de poder, e que os partidos políticos têm a missão de formar, preparar, e capacitar as mulheres sobre todos os elementos importantes, como cidadania, funções de cada poder, sistema de governo e regime político.

”Cumpre também a justiça punir esses partidos que se utilizam de candidaturas laranjas para fins espúrios. Precisamos de mais controle, mais fiscalização e de mais punição para que esses equívocos sejam corrigidos, sem que tenhamos de abrir mão de instrumentos que são louváveis para o aperfeiçoamento da nossa democracia”, finaliza Michele.

Confira a entrevista que a cientista política Carla Michele concedeu a Letícia Caracas para o Blog do Edison Silva: