Antônio Henrique também foi vítima de edição de vídeo com suas falas recentemente. Foto: Reprodução/ZOOM.

Durante reunião virtual realizada na manhã desta quinta-feira (09), vereadores de Fortaleza disseram ter sido vítimas de pessoas ligadas à rede de disparo de noticias falsas conhecida como “Gabinete do Ódio“.

Um dos parlamentares teve uma fala sua, direcionada ao presidente Jair Bolsonaro, editada, distorcendo o teor da mensagem. O vídeo com o pronunciamento foi editado e divulgado em redes sociais para todo o Brasil.

Vítima dos ataques, Eron Moreira (PDT) afirmou que já sofreu ações semelhantes no passado, e que, inclusive, entrou na Justiça contra as pessoas que divulgaram notícias falsas sobre ele. Na terça-feira passada, durante sessão ordinária, o parlamentar chegou a dizer “graças a Deus” por Bolsonaro ter sido acometido pela Covid-19, mas ressaltou que não desejava que o chefe do Executivo morresse ou fosse para a UTI. O “não” da frase foi retirado na edição do vídeo.

Vereador critica descaso do presidente Bolsonaro frente à pandemia do coronavírus no Brasil

De acordo com Eron Moreira, todos os vereadores têm sofrido alguma espécie de ataque nas redes sociais, e segundo ele, algo teria que ser feito para evitar que isso dê o norte das discussões políticas daqui pra frente. O vereador afirmou que uma das pessoas processadas é ligada aos motoristas de aplicativos e a outra a um vereador de oposição ao prefeito Roberto Cláudio.

“Essa última fake news foi disparada pelo escritório do ódio para todo o Brasil. Eu estou levando a denúncia para o Senado Federal, que está realizando uma CPMI contra as fake news. Há pouco tempo tivemos denúncias de que dois membros do gabinete do ódio moram em Caucaia”, disse ele, lembrando reportagem que apontou indício de ligação de cearenses apoiadores do Governo Bolsonaro com o disparo de notícias falsas.

“Isso não vai me deixar menor, não vai me deixar acoado e com medo. Eu já disse que quando assumi a postura de ser político foi para que eu possa ter posicionamento. Nesse debate, eu estou esperando que o presidente me interpele para justificar e dizer o que vem fazendo para mitigar as mortes e a dor das pessoas. Sou a favor da vida”, afirmou o parlamentar.

O presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Antônio Henrique (PDT), lembrou que também foi vítima de noticias falsas. Um vídeo, com falas do vereador editadas, também foi divulgado nas redes sociais. O pedetista disse, em sessão com o prefeito, que achou bonito a defesa da democracia por torcidas organizadas de São Paulo. No entanto, a edição feita mostrava ele defendendo atos de vandalismo, e ainda fazendo menção ao fato de ele ser evangélico.

Ao ser cobrado por seus pares para que o Legislativo de Fortaleza tome uma posição em defesa dos vereadores, Antônio Henrique afirmou que vai designar a assessoria jurídica da Casa para avaliar o melhor caminho a ser tomado. “Como cristão, eu prefiro esperar e confiar na resposta divina. Mas tenho que me posicionar. Se a gente abrir espaço para as pessoas que mentem antes de se eleger, imagine o que farão caso alcancem o poder”.

“Estamos fazendo uma análise do que pode ser feito. É uma tristeza grande para a política do País. Estamos trabalhando com dignidade, e de repente aqueles que não têm serviços prestados, entram pelo caminho da mentira, da inverdade. Sabemos quais os objetivos deles, que é ser mandatários, tirando a vaga de pessoas que estão trabalhando” – (Antônio Henrique)

Professor Elói (PL) chegou a dizer que está se omitindo a fazer o uso da palavra durante as sessões, para evitar que suas falas sejam distorcidas. Quanto a isso, Antônio Henrique afirmou que os parlamentares estão “entre a cruz e a espada”. “Se não falar, não exerce a função de parlar. E se a gente fala, as pessoas distorcem, editam. Infelizmente, estamos vivendo dias difíceis. Mas espero que a população entenda o trabalho dos vereadores”.

Guilherme Sampaio (PT), por sua vez, destacou o aprofundamento das investigações sobre o Gabinete do Ódio, que inclusive, apontou indícios da rede de mentiras no Ceará. Ele afirmou já estar acostumado com este tipo de ataque, mas destacou ser importante que a Casa se debruce sobre esse desvirtuamento do debate político.

Recentemente, o Governo do Estado publicou Lei aprovada pela Assembleia Legislativa tratando sobre punição para quem divulgar fake news referentes ao coronavírus durante o período de pandemia, o que se encaixaria no que ocorreu com Eron Moreira. Segundo Guilherme Sampaio, é importante que a legislação seja aplicada de forma mais concreta.

Debate político

“Nos últimos anos esse tipo de ação criminosa está corroendo a democracia. Isso coloca em risco uma conquista de décadas. Peço à Mesa Diretora que se debruce sobre essas denúncias para monitorar, e, eventualmente, definir alguns encaminhamentos cabíveis em uma situação como essa. Se ficarmos assistindo a esse tipo de prática dar o tom do debate político, veremos ir ladeira abaixo a luta pela redemocratização”, destacou o petista.

O vereador Adail Júnior (PDT), por sua vez, destacou que entidades organizadas também estariam propagando notícias falsas sobre os vereadores. Segundo ele, a presidente do Sindiute, Ana Cristina Guilherme, estaria divulgando cartazes chamando os membros do PDT de “traidores da Educação”. Para o parlamentar, a atitude também pode ser enquadrada como politiqueira.

Democracia

Líder do PDT na Câmara, Iraguassú Filho, afirmou que chegou a ver o vídeo editado “de forma criminosa” com as falas de Eron Moreira. Ele lembrou ainda que o site de relacionamentos Facebook retirou do ar mais de 70 páginas ligadas à família do presidente Jair Bolsonaro, responsáveis por reproduzir notícias falsas no Brasil. O parlamentar prometeu ainda fazer defesa de seus correligionários.

“Vamos estar atentos a toda ofensa aos nossos colegas de bancada e membros do nosso partido. Espero que a CPMI das Fake News avance no Congresso Nacional. Para o bem da democracia, e para que não tenhamos eleição maculada por mentiras, isso precisa acabar”, defendeu.