Roberto Rios disputa uma vaga na Câmara de Fortaleza desde 1988. Foto: Reprodução/Facebook.

Como você se sentiria se nas eleições passadas tivesse obtido mais votos do que 16 dos vereadores eleitos, e ainda assim, ficasse apenas na suplência? E se isso tivesse ocorrido nos últimos 32 anos, durante oito disputas eleitorais seguidas? O suplente de vereador Roberto Rios Nogueira acredita não ter motivos para desistir e vai enfrentar, mais uma vez, uma eleição municipal, na tentativa de conseguir um dos 43 assentos na Câmara Municipal de Fortaleza.

Desde 1988, quando tinha apenas 35 anos de idade, ele vem tentando, sem sucesso, conquistar um espaço que poucos conseguem, em um dos “concursos” mais disputados da cidade. Agora, próximo de completar 67 anos, o “eterno suplente”, segue na tentativa de se consagrar como um dos vitoriosos nas urnas pela primeira vez, no pleito deste ano.

Rios iniciou sua carreira política no PDT, partido que ajudou a fundar no Ceará. Nas eleições de 1988 recebeu 1.359 votos, ficando como suplente para a Câmara de Fortaleza. De lá pra cá já são oito tentativas, todas sem o sucesso esperado.

Depois de passar por MDB e PSB, ele retornou, em 2016, para o partido trabalhista que o lançou em 1988. Nos pleitos de 2000, 2004, 2012, e nas eleições de quatro anos atrás, se manteve sempre com mais de 6 mil votos, o que não foi suficiente para obter êxito nas urnas.

Em 2008, porém, conseguiu “apenas” 4.857 votos, mais do que sete vereadores eleitos naquele ano, dentre eles o atual presidente do Poder Legislativo, Antônio Henrique (PDT). Rios atribui a queda de desempenho naquele pleito ao falecimento da sogra, às vésperas da eleição.

“Todo o movimento que fizemos foi paralisado. Foi um dia de choro, de correria. A minha mulher perdeu a mãe, meus cunhados estavam todos tristes, foi um dia difícil”, lembra.

O pré-candidato a vereador reclama da legislação eleitoral vigente no País, que assim como a ele, prejudicou outras candidaturas, seja nas disputas municipais ou nas eleições gerais. Em 2018, por exemplo, o então deputado federal Ronaldo Martins não foi reeleito, mesmo recebendo 101 mil votos. Ele obteve mais sufrágios do que outros sete parlamentares eleitos, dentre eles Vaidon Oliveira (PROS), eleito com pouco mais de 30 mil votos, e beneficiado pela votação expressiva de Capitão Wagner (PROS).

O mesmo aconteceu com o então candidato a deputado federal Renato Roseno (PSOL), em 2010, quando obteve mais de 113 mil votos, mas não foi eleito. O socialista teve mais votos do que outros 13 postulantes eleitos.

No pleito de 2016, Ailton Lopes, também do PSOL, obteve mais de 12 mil sufrágios, sendo o quinto candidato mais bem avaliado nas urnas. Por conta da legislação eleitoral, não conquistou o assento de vereador em Fortaleza.

“Em todas as eleições que disputei, tirei votos que me davam margem para ser vereador. Eu não acho essa legislação eleitoral democrática. Os mais bem votados devem ser os eleitos. Ela coloca alguém com poucos votos para representar uma multidão que votou em outro”, disse Rios ao Blog do Edison Silva.

Suplente

Apesar de não ter obtido sucesso nas urnas, ele assumiu, como suplente, o cargo de vereador por três vezes. Duas delas por apenas quatro meses, e uma outra por dois anos, quando, pelo PMDB, ficou no lugar de Nelba Fortaleza, que foi convidada a participar como secretária da gestão do ex-prefeito Juraci Magalhães.

“Na época em que estive na Câmara deu para aprender um pouco. Mas sendo vereador ou não, eu continuarei fazendo o meu trabalho. Se bem que seria melhor estando no Parlamento, em conjunto com outras cabeças pensantes”, disse.

Nos últimos anos, o suplente de vereador assumiu a função de secretário-executivo da Regional VI. Apesar de não ter sido eleito titular de uma cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza, o postulante tem atuado principalmente nos bairros da Grande Messejana, Barroso e Cidade dos Funcionários.

Esperançoso

Dos atuais membro do PDT no Legislativo Municipal, Rios lembra que obteve mais votos do que três deles (Dr. Porto, Gardel Rolim, Raimundo Filho). Isso, porém, não garante uma vaga ao postulante na Casa, visto que nomes de peso, também oriundos da gestão do prefeito Roberto Cláudio, são favoritos a assumirem vagas na Câmara Municipal

Mas Roberto Rios segue otimista. Depois de mais de 30 anos, ele acredita que chegou sua vez. “Estou esperançoso dessa vez, acho que vai dar”, finalizou o suplente de vereador.

 

Trajetória de mais de 30 anos como suplente:

Em 1988, pelo PDT, obteve 1.359 votos, ficando na suplência.

Em 1992, pelo PDT, obteve 2.050 votos, ficando na suplência.

Em 1996, pelo PMDB, obteve 4.292 votos, ficando na suplência.

Em 2000, pelo PMDB, obteve 6.829 votos, ficando na suplência.

Em 2004, pelo PMDB, obteve 6.435 votos, ficando na suplência.

Em 2008, pelo PSB, obteve 4.857 votos, ficando na suplência.

Em 2012, pelo PSB, obteve 6.106 votos, ficando na suplência.

Em 2016, pelo PDT, obteve 6.236 votos, ficando na suplência.

Em 2020?