Paulo Lotufo é favorável ao adiamento já que a doença ainda estará em ascensão em outubro. Foto: Reprodução/TV Senado.

Especialistas da área da saúde convidados para falar aos senadores nesta segunda-feira (22) sobre os efeitos da pandemia do coronavírus na data da votação para eleger prefeito e vereadores, constitucionalmente marcadas para os dias 4 e 25 de outubro (primeiro e segundo turnos), apresentaram razões diferentes sobre novas datas, por suas visões sobre a constância da transmissão do vírus nos próximos meses.

Está na pauta do Senado, conforme promessa do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, a proposta de emenda à Constituição que definirá o novo calendário de votação com base nas informações dos médicos infectologistas.

O médico epidemiologista Paulo Lotufo afirmou que tudo indica que a pandemia ainda estará em ascensão em várias partes do país em 4 de outubro. “Eu considero que essa é uma data em que a possibilidade de termos ainda uma ascensão, em vários locais do país, de casos novos e de mortes, é muito grande, de termos um nível de contágio ainda elevado. Eu considero que a data de 4 de outubro é uma data temerária. Eu não recomendaria que a gente fizesse o pleito nesta data”, disse Lotufo.

Professor da Universidade de São Paulo (USP), Lotufo sugeriu que as eleições sejam adiadas para 29 de novembro (1º turno) e 13 de dezembro (2º turno). Além disso, para evitar aglomerações, ele sugeriu que o horário da votação seja estendido até as 20h ao invés de terminar às 17h, como geralmente ocorre. Ele opinou ainda não ver necessidade de flexibilizar a obrigatoriedade do voto. Para ele, idosos e pessoas com problemas de saúde específicos deverão poder justificar ausência na votação por meio de atestado médico.

Situações diversas

De acordo com o médico, a doença está caminhando de maneiras diferentes pelo país, fazendo com que alguns estados já estejam passando por uma diminuição de contágios enquanto outros ainda enfrentam aumento de casos e mortes.

Lotufo disse que locais que tiveram situação mais crítica, como o Amazonas, podem já ter passado pelo pico da pandemia, mas tiveram número de mortos muito grande porque “as condições de prevenção e de tratamento não foram as ideais”. Para ele, em locais em que a prevenção e o tratamento foram mais bem feitos, a pandemia acaba durando mais tempo, porém com número de óbitos muito menor.

“Quanto mais eficiente nós somos em termos das nossas ações, maior será o período pelo qual nós vamos estender esse período de controle. Se nós tivéssemos, como aconteceu em Nova York, um pico imenso de casos com mortes, talvez já estivéssemos numa situação de descenso, mas o custo disso seria uma quantidade imensa de mortes”, afirmou Lotufo.

David Uip disse da dificuldade de prever como estará a doença no dia 4 de outubro, data marcada para o pleito municipal de 2020. Foto: Reprodução/TV Senado.

O infectologista David Uip, que já foi secretário de saúde de São Paulo, ressaltou que é não é possível prever com exatidão como a pandemia vai se comportar nos próximos meses. Para ele, o Brasil ainda não chegou ao pico de contaminações e mortes.

“Passados quatro meses, nada indica que estejamos ultrapassando o pico da pandemia. Na verdade, nós estamos diante do recorde de casos de mortes, e isso vem sendo principalmente registrado nas últimas semanas. Então, é o aumento do número de casos e, infelizmente, o aumento do número de mortes”, disse Uip.

Com informações da Agência Senado.