O senador disse que está vivo graças a Deus. É a primeira vez que ele fala em público e demoradamente sobre o episódio que saiu baleado. Foto: Reprodução/UOL.

Em entrevista ao site UOL, no início da tarde desta segunda-feira (15), o senador Cid Gomes (PDT) demonstrou não ter se arrependido de seu ato contra militares amotinados em quartel do município de Sobral, quando jogou uma retroescavadeira para derrubar uma grade que protegia policiais amotinados e foi atingido por dois tiros. O pedetista fez duras ao governo do presidente Jair Bolsonaro, afirmando que a tendência das ações do chefe do Executivo farão com que ele “caia por si”.

Sobre o caso da retroescavadeira e o atentado sofrido em fevereiro deste ano, quando do amotinamento de policiais cearenses, Cid Gomes comparou o ato dos policiais ao estupro de uma criança, e que agiria contra os autores do crime, ainda que estivesse em desvantagem. “Levei dois tiros e não tive nada. Não ficou sequela, as balas continuam dentro. Para mim é coisa de Deus. Não tem outra explicação”, afirmou.

Segundo informou, um funcionário do Ministério dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, estava no local do incidente, o que ele avalia como algo estranho. O senador relatou, ainda, que um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro esteve em Fortaleza dias antes do ato que aconteceu na cidade de Sobral. “Acho muito esquisito uma pessoa de Sobral virar assessor importante da Damares, e essa pessoa estava lá (no local do incidente). O Bolsonaro tem uma intrínseca relação com a milícia do Rio de Janeiro, e daí para chegar nos outros estados…”

O senador insinuou que não se arrepende do que fez, mas disse ser um “pacifista por natureza, por convicção”. “Eu fui lá, pessoalmente, mandei irem embora. Enfim, não quero fazer apologia ao que eu fiz. Eu quero justificar o que eu fiz. Eles estavam agindo como marginais na minha terra. Eu não estava armado, fiz questão de dizer isso. Eu sou pacifista, não defendo armamentismo, mas se eu me deparar com um grupo de pessoas estuprando uma pessoa, eu iniciarei uma reação”.

Na semana passada, Jair Bolsonaro chegou a sugerir que seus seguidores adentrassem hospitais e filmassem os leitos. Sobre esse assunto, Cid Gomes lembrou que três vereadores de Fortaleza tentaram fazer isso no Hospital de Campanha instalado no estádio Presidente Vargas,  mas foram barrados pela direção do equipamento de saúde e impedidos pela polícia. Os parlamentares são alinhados às ideias do presidente.

“Eles quiseram invadir o hospital e tiveram reação imediata. A polícia disse que se eles fizessem isso, seriam algemados e presos. Felizmente, no Brasil, o bom senso ainda prevalece. Mas é mais uma prova do despreparo do nosso presidente. A repercussão que isso terá, acho que é algo que deve ser investigado”, disse.

Segundo ele, os atores políticos do Brasil deveriam impor algumas reações aos atos do presidente da República. Ele citou, por exemplo, uma moção de repúdio do Congresso Nacional a essas ações de Bolsonaro. “A gente tem que fazer atos formais de reprimendas. O Congresso pode aprovar moção de repúdio pela atitude descabida e desrespeitosa da vida até dos amigos dele”. Cid Gomes, porém, afirmou não querer ser autor da nota.

Ainda durante a entrevista, o senador afirmou que a tendência é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixe o cargo, uma vez que suas ações vão na direção oposta daquilo que Bolsonaro sempre defendeu. Sobre o ministro da Educação, Abraham Weintraub, Cid disse: “Esse ministro não tem nada a ver com Educação. Zero. Ele nunca teve interseção com Educação para estar à frente de um ministério. Ele é desse grupo de xiitas amalucados, próximos do presidente. Depois de ter colocado um colombiano exótico, bota uma figura que não tem nada a ver. Ele acha bonito ser do jeito que é”.

Para Cid Gomes, Weintraub é outro que deve ser demitido por Bolsonaro, não por não estar fazendo as coisas como o presidente quer, mas pela pressão que deve ser feita pelo Judiciário. “Ele mexeu com gente grande e talvez vá sair por isso. Os ministros vão fazer greve, não vão visitar o Palácio. Eu temo é que o sucessor seja ainda pior”.

Despreparado

Especificamente sobre o presidente Jair Bolsonaro, Cid Gomes disparou: “Um despreparado, arrogante. Além de expressar que não estuda, não tenta aprender. São convicções preconceituas. Ele só quer mandar”. O senador, porém, afirmou ser contra o impeachment agora, afirmando que a sociedade brasileira tem que aguentar pela escolha que fez.

No entanto, o pedetista destacou que há uma acusação de “genocídio” contra Jair Bolsonaro no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, devido as ações do presidente em relação ao coronavírus. “Isso é algo que já justifica para impedir que ele continue fazendo o mal. Ele é (um) despreparado que quer mandar, e neste caso do coronavírus, a responsabilidade dele tem que ser apurada”.

Centrão

A proximidade de Bolsonaro com o Centrão também foi pauta da entrevista. Para Cid Gomes, quando o presidente passa a atuar de forma fisiológica, trocando votos na Câmara por cargos e dinheiro, passa a decepcionar seu eleitorado. “Ele vai se acabar por suas ações. O tempo mostrando o que as pessoas são de fato”.

O senador também fez críticas ao núcleo que comanda o Partido dos Trabalhadores (PT), que segundo ele, está envolvido na corrupção, que acabou por ajudar a eleger Jair Bolsonaro.  “O Ciro (Gomes) tem que mostrar que é diferente disso. E acho que ele está certo”, defendeu.

Para Cid, o ex-ministro Sergio Moro é “uma figura artificial” que não tem densidade eleitoral para o pleito de 2022. Em sua avaliação, entre as críticas mútuas feitas por Moro a Bolsonaro, após a exoneração do primeiro, “os dois têm razão” no que dizem um do outro.

“Eu não tenho nenhuma vocação para ficar acreditando em teorias revolucionárias, exóticas demais. As Forças Armadas têm consciência do seu papel. Os militares estão conscientes do momento. Eu tenho zero preocupação de que no Brasil haja alguma ação de endurecimento com respaldo das Forças Armadas. A tendência é o Governo Bolsonaro se desmoralizar a cada dia. Ele é quem está cavando sua própria sepultura” – (Cid Gomes)