Comitiva que acompanhou o presidente Bolsonaro nesta sexta-feira (26) na cerimônia de acionamento da comporta do Eixo Norte da Transposição do Rio São Francisco liberando as águas para o Ceará. Foto: Alan Santos/PR.

Ciro Gomes, governador do Estado do Ceará recebeu, no dia 3 de abril de 1991, em Juazeiro do Norte, o então presidente Fernando Collor de Melo, numa visita fanfarrônica, apresentada como protocolar, onde Collor anunciaria, como de fato anunciou, embora tenha ficado apenas em promessas, a liberação de volume expressivo de recursos para o desenvolvimento do Nordeste. De temperamento forte como o de Ciro, e à época desgastado como hoje está Bolsonaro, por razões não todas iguais, mas Ciro estava lá, ouvindo, inclusive, a célebre afirmação de Collor, de ter “nascido com aquilo roxo”.

Jair Bolsonaro, queiramos ou não, é o Presidente da República. E segundo o governador Camilo Santana, em críticas feitas ao próprio Bolsonaro, depois de eleito ele passou a ser o governante de todos os brasileiros. De fato, o presidente deve agir como tal, mas, mesmo com prática diferente daquela esperada de um verdadeiro governante, ele continua sendo o Chefe da Nação. Recebê-lo no Ceará, ou em qualquer outro ponto do Brasil, não significa adesão ou concordância com os seus atos e ações. Bolsonaro veio ao Ceará, nesta sexta-feira (26), participar de um evento particularmente muito significativo para o nosso Estado: marcar a chegada de águas do Rio São Francisco, garantidora de uma certa tranquilidade, no campo hídrico, à maior parte da população.

O governador Camilo Santana não apresentou uma razão de estadista para deixar de receber o presidente da República, em missão oficial no território do Estado que ele governa. Camilo escreveu em uma de suas contas nas redes sociais, pouco antes do desembarque de Bolsonaro: “Hoje é um dia importante para o nosso Ceará: o dia da chegada das águas do Rio São Francisco, uma obra de imensa relevância para nosso estado. Que foi concebida e tocada no Governo Lula, com o apoio do ex-ministro Ciro Gomes, e continuada pelos Governos Dilma, Temer e, agora, Jair Bolsonaro. Agradecemos a todos pela contribuição para o desenvolvimento dessa obra histórica para o Nordeste, cujo andamento acompanhei de perto nos últimos seis anos, e muito lutei para sua realização”.

E prosseguiu: “Só após superarmos este grave momento de pandemia, que já atingiu mais de cem mil irmãos e irmãs cearenses, deverei voltar ao local da transposição, para ver de perto as águas do São Francisco já no nosso Cinturão das Águas, por onde seguirão para garantir segurança hídrica para a população cearense”. Esta obra, Cinturão das Águas, registre-se, fundamental para que as águas do São Francisco chegadas ao Ceará sejam distribuídas para as outras localidades do Estado, inclusive para o maior reservatório cearense, o Castanhão, de onde provém boa parte da água consumida pela população da Região Metropolitana de Fortaleza, tem substancial financiamento da União.

Sem o aporte de recursos federais o Cinturão das Águas não teria avançado tanto. Ainda na última quinta-feira (25), o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, no Palácio da Abolição, antes do almoço com o governador Camilo Santana, autorizou a liberação de mais R$ 54 milhões para a continuidade das obras do Cinturão. Os recursos próprios do erário estadual não são suficientes para empreendimento tão vultoso quanto importante para o Estado. O ministério comandado por Rogério Marinho é hoje o responsável pelas obras de Transposição de Águas do Rio São Francisco.

Memória

Demorou muito essa obra da Transposição de Águas do Rio São Francisco. Já falamos sobre sua importância quando a comparamos com a chegada da energia de Paulo Afonso ao Ceará, no ano de 1965, mas não ressaltamos, ali, o trabalho desenvolvido pelo ex-deputado estadual Welington Landim, nos seus dois últimos mandatos (ele morreu no início da legislatura passada), na defesa da Transposição. Sem a sua luta, por certo, não seria agora que essas águas chegariam ao Ceará.

Welington Landim foi valente em defesa dessa obra. Ele mobilizou as assembleias legislativas, os governadores e as bancadas federais dos estados nordestinos que estão sendo beneficiados com o empreendimento. Foi duro nas críticas ao Governo Federal pela lentidão e atraso das obras, utilizando, para conseguir o seu objetivo, todos os meios políticos de persuasão e pressão. Que os cearenses guardem essa lembrança, e os representantes do Ceará o tenham como exemplo de garra e obstinação na defesa dos interesses do Estado.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva resgatando o episódio de 1991 e comparando como o de hoje: