Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o maior impacto é no setor terciário, que engloba turismo, bancos e restaurantes. Foto: Reprodução/TV Senado.

O medo de uma segunda onda de contágio pelo coronavírus pode retardar a retomada do setor de serviços até meados de 2021.

A estimativa é do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que participou nesta segunda-feira (01) de audiência pública remota da comissão mista que acompanha as medidas adotadas pelo governo federal no enfrentamento da pandemia.

Segundo ele, o tráfego de pessoas na rua no horário de pico em países como Suécia, China, Estados Unidos, Espanha e Itália permanece abaixo da média de 2019. Isso, de acordo com Roberto Campos Neto, indica que o “fator medo” pode comprometer a retomada no setor terciário, que engloba atividades como turismo, bancos, restaurantes e corretagem de imóveis, por exemplo.

“Independentemente do lugar, a gente não conseguiu voltar ao nível de fluxo que tinha em 2019. A mensagem que fica é a seguinte: tem um elemento de fator medo na população que, mesmo depois que a quarentena for encerrada ou diminuída, o fluxo de pessoas vai demorar a voltar. Esse fator medo existe hoje na população e vai ficar com a gente até que haja uma vacina facilmente disponível ou pelo menos, eu diria, até o meio do ano que vem. Isso é importante para entender que a volta em alguns setores de serviços vai ser mais lenta”.

Dados preliminares do Banco Central apontam para uma queda superior a 50% nas vendas no varejo. Embora setores como metalurgia, alimentos e bebidas tenham demonstrado alguma recuperação, no setor de serviços a redução bateu os 80% e tem demorado a reagir.

“A parte de não duráveis caiu pouco e já está recuperando bem. Os serviços têm uma recuperação mais lenta. Essa parte de serviços ligada a diversão, participação em eventos e turismo, muito provavelmente vai voltar um pouco mais lenta”.

Roberto Campos Neto registrou que a pandemia provocou uma expressiva saída de capitais de mercados emergentes. Foram cerca de US$ 90 bilhões retirados da economia, um choque superior ao causado pela crise econômica de 2008. O Brasil está entre os emergentes que experimentaram um dos maiores fluxos de capitais, o que impactou o câmbio. De 20 moedas analisadas pelo Banco Central, o Real teve a maior desvalorização em 2020: -24,7%.

“A saída do Brasil foi maior do que média dos mercados emergentes. É uma mensagem de que a parte de financiamento externo não é uma variável que nós podemos contar no curto prazo. A gente teve uma queda muito grande em março. Foi uma das maiores quedas. O Brasil foi o país que mais sofreu com a desvalorização da moeda nos mercados emergentes, seguido de perto pela África do Sul.”

O presidente do Banco Central detalhou ainda o estrago gerado pela pandemia em indicadores como desemprego, variação do produto interno bruto (PIB) e consumo das famílias. O saldo médio de empregos em março deste ano foi negativo em 221,4 mil postos de trabalho. Em abril, foram mais 936,2 mil demissões.

“A gente vê como sem precedentes uma queda deste tamanho. Se você olhar esse gráfico em vários países do mundo, vai ter essa mesma sensação. Uma queda muito forte e muito rápida de emprego”.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou uma queda de 5,9% em março. O dado, impactado pelo efeito financeiro gerado pela pandemia, é considerado como uma prévia do PIB para o período. Na comparação anual, o IBC-Br aponta uma queda de 1,52%. Embora o agronegócio registre crescimento de 0,6% no primeiro trimestre, indústria e serviços retraíram -1,4% e -1,6%, respectivamente.

“Uma queda muito grande em março. O IBC-Br inclusive foi abaixo daquele mês muito ruim com a greve dos caminhoneiros, quando a atividade econômica parou durante um tempo.”

O efeito da pandemia também impacta o consumo das famílias. No primeiro trimestre, o indicador caiu 2%.

“Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias caiu bastante, mesmo com impacto limitado. O que significa que o segundo trimestre deve ser bem pior do que primeiro. A partir do terceiro trimestre esperamos já uma recuperação”.

Fonte: Agência Senado.