Ministro Celso de Mello. Foto: Carlos Moura/STF.

A decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de ordenar que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, preste depoimento nesta primeira semana de maio, sobre as acusações feitas contra o presidente Jair Bolsonaro de querer mudar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), para ter controle sobre as ações da instituição, sinaliza claramente de estar determinado, ele próprio, a concluir este inquérito, visto sua aposentadoria compulsória no dia 1º de novembro próximo.

Ao determinar a instauração do procedimento de investigação, imediatamente após o pedido feito pelo chefe da Procuradoria da República, Augusto Aras, Mello deu um prazo de 60 dias para um delegado designado a presidir o feito tomar o depoimento de Moro, o que o afastaria da presidência do procedimento penal se a medida determinada só fosse esgotada ao fim do prazo estabelecido, visto que, empós a ouvida de Moro, o procurador federal ainda terá prazo para sua manifestação, tempo total que ultrapassaria o prazo improrrogável da sua compulsória.

Justifica o ministro ter determinado o prazo de 5 dias para o depoimento de Moro, no despacho de quinta-feira, 30 de abril, a petição apresentada por três parlamentares: o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), demonstrando preocupação com a possibilidade de, ao curso do prazo de 60 dias, desaparecerem provas importantes para a elucidação dos crimes, possivelmente cometidos tanto pelo presidente da República, quanto pelo ex-ministro.

Até a próxima sexta-feira (08), prazo limite para o depoimento de Moro, visto não ser difícil a sua localização, em Brasília, para receber a notificação do delegado da PF designado para presidir o inquérito, as especulações sobre se tem ou não o ex-ministro provas do afirmado, dominarão boa parte do noticiário político, somado às inúmeras acusações contra um e o outro investigado. É certo, porém, que o resultado final dessa surpreendente investigação, como qualquer outro fato, também negativo, abalará a República, mas logo será fato do passado, como tantos outros escândalos experimentados nos últimos anos, parcialmente esquecidos pela sociedade, mesmo que os seus protagonistas permaneçam incólumes.

O ministro Celso de Mello, por certo, está encerrando sua longa carreira no Supremo Tribunal Federal, a mais longeva de todos quantos integraram aquela Corte Suprema (ele foi nomeado pelo ex-presidente José Sarney), não com o processo mais importante por ele já relatado, mas, com certeza, com a causa que poderá deixar o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, muito vulnerável, política e moralmente, qualquer que venha a ser o posicionamento, posterior ao inquérito, do representante do Ministério Público Federal, a quem cabe iniciar ou não a ação criminal, cujo referendo para o seu curso no Supremo Tribunal, dependerá da autorização do Congresso Nacional.

Código da Vida

O advogado Saulo Ramos, já falecido, quando escreveu o livro “Código da Vida”, demonstrou guardar mágoa do ministro Celso de Mello, a quem teria ajudado a chegar ao Supremo, por conta da relação de amizade que tinha com o ex-presidente José Sarney, exatamente pelo fato de o ministro não se dobrar aos interesses do Governo de então, ou do próprio presidente que o nomeou para tão importante cargo na magistratura nacional.

Segundo relato do advogado, Sarney relutou em indicar Celso de Mello, por conta dos pedidos para indicar outros nomes, daí ter chegado para o próprio Saulo, a quem tinha especial deferência, alegando que Celso de Mello era muito novo para o cargo, poderia esperar para quando surgisse uma nova vaga, quando então teria ouvido como resposta de Saulo, que a idade é um defeito que tempo corrige, o que teria sido a cartada final para conseguir a indicação de Celso.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre os bastidores do inquérito aberto contra o ex–ministro da Justiça, Sergio Moro: