Felipe Scudeler Salto diz que o aumento do déficit continuará crescendo e passará dos 100% do PIB em 2026. Foto: Agência Senado.

A crise fiscal causada pelos efeitos econômicos da pandemia do coronavírus no Brasil é grave e a dívida pública, que explodirá em 2020, continuará crescendo até passar de 100% do Produto Interno Bruto em 2026.

Esse é o cenário apresentado pelo diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, nesta segunda-feira (25), em reunião da comissão do Congresso que acompanha as ações do Governo Federal no combate ao novo coronavírus (COVID-19).

“O deficit em 2020 será superior a R$ 700 bilhões, talvez algo ainda pior, se a crise se prolongar por mais tempo que o previsto, levando à adoção de novas medidas emergenciais. Por isso é muito importante evitar o risco de se aprovarem medidas que não estejam relacionadas à crise, que acabam gerando gastos permanentes. Me refiro a reajustes salariais, contratações ou outras despesas permanentes”, comentou Felipe Salto.

“Só em 2020 a dívida deve saltar de 75,8% para 86,6% do PIB, um aumento superior a 10 pontos percentuais. E o país precisa estar atento, pois mesmo com a adoção de eventuais ajustes em 2021, a dívida crescerá mais 4,5% e continuará a crescer nos próximos anos. A situação é muito grave. Não significa que não se deva gastar agora, mas o Brasil precisará compreender que a partir de 2021, a chamada “lição de casa” a ser cumprida será exigente. Vai ter que ter aumento das receitas, corte em despesas obrigatórias e a restauração das regras fiscais. Principalmente no que tange ao teto dos gastos públicos“, disse Salto, enquanto projetava uma série de gráficos tratando do endividamento público aos senadores que acompanhavam a sessão remota.

Queda no PIB

O quadro é agravado pelo baque econômico interno que, num cenário pessimista, segundo a IFI, pode levar o PIB a uma queda de 5,2%. A depressão econômica impacta as contas públicas, porque leva a quedas expressivas na arrecadação do Governo. Por isso, segundo Salto, o poder público deve evitar a ampliação das despesas permanentes.

Outro efeito negativo da explosão da dívida, segundo Salto, é o encurtamento nos prazos de rolagem ou pagamento dos títulos emitidos pelo governo no mercado, devido ao quadro de incertezas — econômica, sanitária e política — no país.

“O Brasil está passando pela desestruturação da sua atividade produtiva. Mais de 40% da indústria, especialmente a de transformação, está paralisada. As plantas industriais estão ociosas e o comércio também tem sido muito afetado. Os setores automotivo e o manufatureiro em geral, por exemplo, estão sofrendo muito. Passamos pela maior crise dos últimos tempos e o buraco fiscal apenas reflete essa situação”, ressaltou Salto.

Financiamento

Também diretor da IFI, o economista Josué Pellegrini afirmou que a necessidade de financiamento do pais chegará a R$ 1,2 trilhão, contando o período entre maio e dezembro. O montante inclui R$ 462 bilhões referentes à rolagem da dívida, e mais R$ 738 bilhões referentes às medidas de enfrentamento à crise gerada pela Covid-19, além de outras medidas fiscais.

Pellegrini citou ainda a suspensão do pagamento das dívidas de estados e municípios em 2020, soma que atinge cerca de R$ 60 bilhões. Essas dívidas incluem pagamentos à União, a bancos públicos federais e a organismos internacionais.

Com informações da Agência Senado.