É esperada a sanção de Projeto de Lei (PL 864/20) que dá 72h para a Anvisa autorizar o uso de produtos de combate ao novo coronavírus. Foto: Pixabay.

Parlamentares da comissão externa da Câmara dos Deputados que discute ações de combate ao novo coronavírus (COVID-19) demonstraram preocupação com entraves para a produção e a distribuição de uma vacina contra a COVID-19 no Brasil.

Em videoconferência nesta quarta-feira (27), deputados e pesquisadores reclamaram da burocracia para importar produtos de pesquisa e também do fato de o País não ter sido convidado para a iniciativa global de produção de uma vacina.

“O Brasil precisa participar de pesquisas e investimentos, criar uma rede que amplie nosso desenvolvimento de vacinas. Vamos questionar a OMS [Organização Mundial da Saúde] sobre por que o Brasil não participa do projeto de desenvolvimento da vacina”, disse o deputado e coordenador da comissão externa, deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr (PP/RJ).

O deputado Alexandre Padilha (PT/SP) também se disse preocupado com “a postura atual do País, praticamente excluído da mesa de negociação”. “O Congresso Nacional tem que assumir um papel sobre isso, ajudar a posicionar o Brasil”, defendeu.

Por sua vez, o deputado General Peternelli (PSL/SP) ponderou que a comunidade científica não é política, mas técnica. “A OMS tem que superar esses aspectos e manter a troca do conhecimento técnico. A comunidade científica não pode ter fronteiras”, declarou.

Vacina própria

Na opinião do diretor do Laboratório de Imunologia do Incor e ex-diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, o Brasil, se acreditar, pode fazer uma vacina inovadora e diferente das outras. O problema, segundo ele, é a burocracia do Estado brasileiro, “terrível”.

“Neste momento de crise, tínhamos que importar reagentes e materiais sem que isso passasse semanas na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Produtos de pesquisa não são para utilização clínica. Há intercâmbio. É muito rápido entre laboratórios. É importante que isso venha rapidamente para o laboratório e não fique esperando sanção no aeroporto”, observou.

Teixeira Jr. informou que o presidente Jair Bolsonaro deverá sancionar em breve um Projeto de Lei (PL 864/20) de autoria da comissão que dá 72 horas para a Anvisa autorizar o uso no Brasil de produtos de combate ao novo coronavírus validados por autoridades estrangeiras.

Perspectivas

Na audiência, representantes de empresas farmacêuticas trouxeram as novidades relativas ao desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19. No momento, há inúmeros estudos conduzidos por diversos países e as perspectivas mais otimistas dão conta de uma vacina pronta para aplicação ainda neste ano.

O presidente da Pfizer Brasil, Carlos Murillo, destacou o trabalho em conjunto feito por diferentes empresas para acelerar o processo. “Se todos os testes continuarem avançando, já temos expectativas de ter os primeiros milhões da vacina disponíveis para finais de 2020, estamos falando de outubro e novembro”, afirmou.

Os estudos baseiam-se em novas tecnologias a fim de acelerar a produção da vacina, que convencionalmente fica pronta depois de anos de pesquisas. As explanações feitas na videoconferência trataram principalmente de vacinas baseadas em RNA mensageiro, o que seria uma novidade no setor. São vacinas desenvolvidas a partir do código genético do vírus e não, como é padrão, de uma versão inativada dele.

“Essa tecnologia vai nos permitir uma alta potência e uma alta capacidade de produção. Vamos gerar uma resposta de defesa adequada sem usar o coronavírus. A gente copia o material genético dele para fazer com que a célula produza anticorpos”, explicou a diretora médica da empresa farmacêutica Sanofi Pasteur (Brasil), Sheila Homsani.

Os representantes dos laboratórios destacaram, por outro lado, a importância de parcerias com governos e outros centros de pesquisa locais para garantir a produção da vacina nas quantidades que o mundo necessita e o acesso da população a elas.

“No momento, a companhia não tem nenhuma decisão de onde vai ser distribuída a vacina, em que países. Vamos identificar os países que mais precisam e os grupos de melhor resposta e, com base nisso, tomar a decisão com as autoridades dos países”, disse Murillo.

Segundo ele, a Pfizer já tem conversado com o Governo brasileiro para assegurar que o Brasil esteja dentro do grupo dos países a se beneficiar rapidamente dos avanços.

Possíveis parceiros

No Brasil, possíveis parceiros para a produção da vacina seriam o Instituto Butantan e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O diretor de Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma, no entanto, alertou que, para participar de uma parceria, os pesquisadores do instituto precisam conhecer detalhes do processo produtivo, a fim de identificar bem as capacidades brasileiras. Isso porque a produção de uma vacina envolve diferentes condicionantes, como tipo de frasco, doses por seringa, temperatura para conservação e a própria tecnologia.

“Não temos preferência por nenhuma empresa. O Ministério da Saúde que vai decidir em qual vacina vamos entrar e se teremos condições de fazer mais de uma parceria”, informou Zuma. A depender do caso, disse o diretor, o instituto escolhido só conseguiria produzir a vacina se receber o ingrediente para fazer a parte final.

Por sua vez, Jorge Kalil, do Incor, disse não acreditar em uma vacina antes de meados do próximo ano. Para ele, a tecnologia que está sendo testada na vacina contra COVID-19 seria uma complicação a mais nesse processo.

Com informações da Câmara dos Deputados.