Para Carla Michele, medidas adotadas por gestores podem influenciar no voto para vereadores próximos da gestão. Foto: Reprodução/Facebook.

Os grupos políticos liderados pelo prefeito Roberto Cláudio, o deputado federal Capitão Wagner (PROS) e o Partido dos Trabalhadores (PT) devem continuar indicando o norte das discussões na Câmara de Fortaleza após as eleições municipais. Na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Blog do Edison Silva, o fim das coligações proporcionais e a atuação de gestores no combate ao coronavírus podem ajudar algumas candidaturas.

Para a cientista política Carla Michele, as composições partidárias para a disputa proporcional, no passado, faziam com que muitas legendas se apresentassem para a disputa sem qualquer ideologia. No fim das contas, o eleitor acabava por votar em um candidato e beneficiando outro, que não representava o perfil de postulante em quem o eleitorado havia depositado sua confiança.

“A partir do momento em que proíbe essas coligações, isso significa o reforço do partido político. O ‘puxador de votos’ vai beneficiar apenas membros de seu próprio partido. Isso diminui a confusão na cabeça da população, quando ela elegia outra pessoa. Portanto, isso tende a fazer com que haja uma diminuição de confusão na cabeça do eleitor”, apontou.

Segundo a estudiosa, por ser uma eleição baseada, primordialmente, ainda, em reduto eleitoral, as disputas municipais, mesmo nos grandes centros urbanos tendem a beneficiar aqueles candidatos que controlam áreas da cidade com práticas assistencialistas. “Esses que conseguem manter o eleitorado fiel, sua clientela política, não vão sofrer com essas alterações. A prática continua a beneficiar indivíduos que possuem uma base eleitoral forte, que acaba conseguindo ter uma adesão consubstanciada do voto”, disse.

Michele acredita também que a pandemia de coronavírus deve influenciar no pleito municipal, a partir do momento em que o eleitorado fizer uma ligação da candidatura majoritária com aqueles que tentam vaga no legislativo. No caso específico de Fortaleza ela avalia que tudo dependerá do sucesso ou insucesso das medidas adotadas por Roberto Cláudio e Camilo Santana, principais lideranças políticas da base governista.

Segundo ela, a tendência é que os grandes partidos lancem candidatos a prefeito, e em meio a um momento de muita visibilidade da classe política poderá haver prejuízo da imagem do postulante e favorecer uma candidatura de oposição, desde que haja percepção da população de que as ações empreendidas contra o coronavírus não foram acertadas.

“Isso, obviamente, pode repercutir na atual composição da Câmara de Fortaleza, que conta com uma grande quantidade de vereadores a partir da base do prefeito Roberto Cláudio. A partir da percepção de como o prefeito está conduzindo essa situação na cidade, pode comprometer também o desempenho dos candidatos a vereador” – (Carla Michele)

O cientista político e professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Uribam Xavier, não acredita que teremos eleições neste ano. Na melhor das hipóteses, porém, ele acredita que isso deva acontecer em dezembro próximo. Diante dos quadros apresentados para a Prefeitura de Fortaleza e Câmara Municipal até aqui, ele acredita que pouco possa mudar no que diz respeito às relações de forças no legislativo da Capital cearense.

Para Uribam Xavier, mudança positiva no PT se daria com apoio do governador Camilo Santana. Foto: ALECE.

Para ele, o grupo liderado por Capitão Wagner (PROS) poderá sofrer as consequências das ações da paralisação dos militares no início do ano, uma vez que a maior parte da população ficou contra os atos dos amotinados. “O próprio Capitão se expôs demais. Naquela ocasião foi demonstrado uma aproximação dele com o grupo bolsonarista. E isso pode ser refletido negativamente no eleitorado, uma vez que parte dos eleitores de Bolsonaro se decepcionou com o presidente”, disse.

Segundo afirmou ainda, pode haver um crescimento, mas talvez nem tanto, da bancada do PT na Câmara Municipal, principalmente, em se confirmando a candidatura da deputada federal Luizianne Lins. “Alguns setores da classe média e pessoas ligadas à periferia podem se aproximar desses candidatos visto que vão lembrar da administração dela”.

Ainda de acordo com Uribam, as gestões do prefeito Roberto Cláudio e Camilo Santana vão dividir os bônus das ações realizadas no combate ao coronavírus, o que pode refletir no voto do eleitor para aquelas pessoas próximas aos dois. “Se o PT sair com apoio do Camilo na cidade, o partido poderá ter um bom desempenho. A Luizianne não é novidade na política, mas tem boa oratória e é aguerrida nos debates”, disse.

“O PT tem um conjunto de quadros com maior visibilidade na cidade, mas bate muito no público da classe média. O PT perdeu muito, mas a campanha da Luizianne pode dar uma ajuda. Três grupos devem se destacar nessas eleições: o grupo do prefeito, o grupo ligado ao Capitão, que está ferido, agora, e o grupo do PT, se conseguir apoio do governador. Outro candidato terá dificuldades” – (Uribam Xavier).