Sergio Moro falou à imprensa justificando o seu pedido de exoneração no auditório do Ministério. Foto: Marcello Casal/Agência Brasil.

Sem afetação, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, fez, na manhã de sexta-feira (24), ao anunciar publicamente o seu pedido de exoneração do cargo, contundentes acusações ao presidente Jair Bolsonaro, além de deixar sob suspeita o próximo diretor geral da Polícia Federal (PF).

Moro, como se ainda fosse juiz federal, fez um “relatório” de todo o processo que foi sua ida para integrar o  atual Governo, e a estada no Ministério, começando pelas conversas iniciais e a promessa do presidente eleito, à época, de dar “carta branca” para ele formar sua equipe e administrar a pasta, até chegar ao desfecho na última quinta-feira (21), quando o presidente, à sua revelia, exonerou o diretor geral da PF, Maurício Leite Valeixo, indicação pessoal de Moro, e ainda por cima, utilizando-se indevidamente de sua assinatura para referendar o ato publicado no Diário Oficial da União. Uma acusação grave: falsificação de assinatura em documento oficial.

O delegado Maurício Valeixo, segundo afirmação de Moro, não pediu para ser exonerado como registra o ato publicado. Esta é outra acusação contra a seriedade da administração federal, embora menos grave que a falsificação de assinatura. Moro relatou sua última conversa com Bolsonaro sobre mudança no comando da Polícia Federal, na mesma quinta-feira, lembrando antes conversas anteriores, ainda no ano passado, quando houve a primeira investida do presidente para trocar o diretor geral da PF.

Segundo o ex-ministro, Bolsonaro em nenhum momento apresentou uma “causa consistente”, uma razão para trocar o comando daquela que é uma das mais respeitadas instituições nacionais. Mas a recusa de Moro de concordar com o desejo do presidente esfriou a relação entre ambos e, de pronto, abriu a porta para sua saída do Governo, pois não era mais a exponencial figura de outrora, um futuro ministro do Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro disse a Moro, afirmou o ex-ministro, querer um diretor geral da Polícia Federal para quem ele tivesse liberdade de ligar para obter informações sobre ações da instituição, quase todas determinadas pelo Poder Judiciário, pois é a PF a Polícia Judiciária Nacional. Quer o presidente, no afirmar de Moro, ter a mesma facilidade de ligar para superintendes com objetivo idêntico, gerando “relações impróprias dos superintendentes e do delegado geral com o presidente”. Realmente uma situação inimaginável, perniciosa, inapropriada para qualquer presidente, e inacreditável para ser atendida por cidadão que tenha chegado à elevada posição de superintendente e de diretor geral da corporação.

Como se não bastassem as acusações, Moro insinuou que Dilma Rousseff e Lula, no respeito à autonomia da Polícia Federal, foram mais republicanos que Bolsonaro. Eles (Dilma e Lula) nunca investiram na substituição de diretor geral da PF para satisfazer interesses políticos, embora nos governos deles foram muitas as ações dos delegados federais contra os seus aliados, e o próprio Lula, um dos que chegaram a ser presos, condenado por corrupção. Bolsonaro, no dizer de Moro, quer fazer política com a Polícia Federal que, a ser verdade, deve merecer a repulsa de todos, principalmente dos representantes dos outros dois Poderes: Legislativo e Judiciário, assim como de próprios integrantes do Governo.

Moro, antes de concluir seu discurso, transmitido ao vivo por redes nacionais de televisão, e acompanhado atentamente por representantes de todos os demais órgãos de comunicação, deixou no ar, encerrando relatos de seus diálogos com o presidente ao longo do período em que foi ministro (de janeiro de 2o19 até 23 de abril 2020), ter convergido com várias posições de Bolsonaro, mas em algumas outras houve “divergências, que serão comentadas depois”, quem sabe, após as respostas do próprio presidente à sua fala.

Politicamente, a saída de Moro abala o Governo Bolsonaro, pois ele e o ministro Paulo Guedes, com todo respeito aos demais integrantes da equipe do Executivo Federal, eram os fiadores da gestão. Ele não é a figura da simpatia dos políticos. Sua atuação como magistrado, respondendo por uma das varas da Justiça Federal, com o maior número de processo da chamada “Lava Jato”, incomodou políticos de vários partidos. Alguns até chegaram a ser presos por ordens suas. Ele sofreu um certo abalo ao ter conversas suas, ainda como juiz, com procuradores da República, divulgadas recentemente, mas sai do Governo, ainda merecendo respeito, inclusive da classe política.

Não será difícil a sua substituição. O próximo ministro, porém, precisa ter o respeito da Nação. Moro está saindo por não ter autonomia na Pasta. E o novo diretor geral, idem.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre a saída de Sergio Moro e a situação política do governo Bolsonaro: