Ex-ministro se demitiu acusando Bolsonaro de tentativa de interferência na Polícia Federal. Foto: Divulgação.

As denúncias feitas pelo agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pegaram a todos de surpresa, visto a quantidade de denúncias apresentadas pelo até então gestor. Deputados federais da bancada cearense relataram ao Blog do Edison Silva as consequências de tais afirmações e apontaram que muito da saída de Moro da gestão Bolsonaro tem relação com a proximidade do presidente da República com o grupo do Centrão no Congresso Nacional.

“O presidente está sim se estruturando com o Centrão, pelas informações que tenho”, disse o pedetista Eduardo Bismarck. Segundo ele, o discurso de Sérgio Moro pode ser considerado como “gravíssimo”, principalmente em três pontos: “como seria essa pensão se acontecesse algo com o Ministro; a acusação de que o presidente tivesse acesso aos inquéritos e um ato publicado no Diário Oficial assinado sem o conhecimento do ministro”, apontou.

Para André Figueiredo (PDT), as falas de Moro foram contundentes, o que faz com que se avalie que o momento em que o Brasil passa é “gravíssimo”. Segundo o parlamentar, há uma clara tentativa de Bolsonaro em interferir nas ações da Polícia Federal visando acobertar investigações que recaem sobre os filhos dele. “Cada vez mais o presidente da República fica em uma situação insustentável, demonstra que não tem condições de conduzir o País”, avaliou.

“O Moro era um pilar moral na ótica do próprio Governo, assim como não haver negociação de cargos era outra identidade que o presidente alegava ser uma marca de probidade de sua gestão”, destacou Célio Studart (PV). No entanto, ele afirmou que há uma prova de que os compromissos éticos do mandatário da Nação “estão abaixo de uma estratégia de governabilidade”. “É contraditório! É realmente assustador, pois o presidente aponta traços de autoritarismo preocupantes”, disse.

Para Capitão Wagner (PROS), houve “uma grande perda para o Governo Bolsonaro”, por, segundo ele, Moro ser um quadro técnico e “um símbolo do combate a corrupção e acima de tudo porque foi intitulado como super ministro”. Na avaliação de Wagner, a forma como Moro deixou o cargo e por ser uma autoridade com grande aceitação popular deixam o Governo numa situação muito difícil. “Foi prometido carta branca ao ministro. O compromisso foi público. Vai ser difícil demais para explicar”, apontou.

Brasil

A deputada federal Luizianne Lins (PT) afirmou que o Governo já demonstrava sinais de esgotamento, e agora passa a sofrer mais uma perda quando é denunciado por seu próprio ministro. “Numa crise institucional em meio a pandemia, Bolsonaro não tem mais legitimidade política, equilíbrio e nem autoridade moral para governar o Brasil”, destacou.

Para Luizianne, em seu pronunciamento Moro denuncia o atual presidente da República por interferência política direta nas investigações da Polícia Federal. “A entrevista de Sérgio Moro é uma verdadeira delação em relação ao Presidente da República”, criticou.

Centrão

O deputado José Airton Cirilo (PT) lamentou que esse tipo de situação tenha ocorrido em pleno momento de pandemia de coronavírus em que o Brasil vem passando. Para ele, assim como Bolsonaro, Sérgio Moro tem seu grau de culpa na situação em que ficou o Ministério da Justiça, visto que em sua avaliação o ex-ministro não teria compromisso com a  Justiça. “Já vai tarde”, afirmou Cirilo.

De acordo com ele, o presidente da República tem, sim, se aproximado do Centrão, praticando aquilo que teria criticado durante o processo eleitoral de 2018. “São pessoas que todos sabem da visão que eles têm, e é lamentável que o Governo, de certo modo, vai estar se agarrando ao que há de pior na política brasileira”, apontou o petista.