Camilo Santana, governador do Estado do Ceará. Foto: Divulgação.

O Decreto do governador Camilo Santana, conhecido no feriado de Tiradentes, 21 de abril, contempla, parcialmente, o setor da economia cearense ávido pela retomada de suas atividades, mesmo com a sociedade, em porção expressiva, ainda apavorada com a extensão da pandemia do coronavírus, por isso atendendo a orientação oficial de permanecer em casa.

Evidente que os considerandos do documento não sinalizam para uma imediata e plena reabertura das atividades comerciais, industriais e de serviços. E nem poderia ser, depois de contundentes admoestações feitas pela própria estrutura do Estado, das consequências funestas da transmissão do vírus nos aglomerados públicos.

Passada a fase crítica do apavoramento causado pelo vírus, o comportamento social será bem diferente do de antes, aqui e em qualquer lugar do mundo onde está a pandemia. Aqui, não nos abraçaremos mais, pelo menos por um longo período, como costumeiramente fazíamos; os restaurantes e bares não terão a mesma frequência; também não serão mais tão atraentes os espetáculos dos finais de semana, dentre muitos outros grandes eventos da festiva Fortaleza. O temor de contrair a enfermidade ainda perseguirá aos cautelosos por um bom tempo, também por advertência das autoridades.

É justificável a pressão do empresariado para a volta à normalidade das atividades mercantis. O Governo, por seu turno, deve implementar ações que conciliem os interesses da classe produtora de riquezas, e abastecedora do próprio erário, com o bem-estar da sociedade, especialmente neste momento que todos estão ameaçados por um vírus desconhecido, e de elevado potencial de letalidade. O grupo de trabalho criado pelo governador do Estado, para encontrar caminhos de flexibilização do isolamento social, deveria contar com um representante da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos, e também com gente da Secretaria de Educação.

As questões de saúde e social vão perdurar por muito tempo. É possível até que brevemente não sejam mais necessários tantos leitos de UTIs para atender a pacientes vitimados pelo coronavírus, mas muitos cearenses, ao longo de vários meses, pelas projeções das autoridades internacionais, nacionais e locais sobre o curso do vírus, vão continuar necessitando de assistência especial. E não serão diferentes as carências no campo social quanto à necessidade da presença do Estado para acudir os mais carentes, vítimas das consequências da doença, mesmo não tendo sido diretamente atacado pelo vírus.

A volta do funcionamento normal das escolas públicas reclama uma situação especial. São milhares de famílias com muitas dúvidas quanto ao futuro de seus filhos, tanto em relação aos próprios estudos, como com o temor de que possam ser contaminados. Acrescente-se a isso a desmotivação que já tomou conta de alguns estudantes, inesperadamente fora da sala de aula, com dúvidas sobre a conclusão de seus cursos ou à recuperação das aulas. O setor social do Governo vai precisa de atuar fortemente nesse espaço.