Murilo Rocha Aguiar foi um líder político do Município de Camocim. Ele morreu de um ataque cardíaco, disputando a presidência da Assembleia Legislativa do Ceará. Foto de arquivo

A eleição dos novos integrantes da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Ceará, naquele ano de 1985, resumia uma intensa disputa entre os grupos políticos do ex-senador Virgílio Távora e do recém-formado pelo governador da época Gonzaga Mota, eleito por Virgílio Távora, mas com ele rompido pouco tempo depois de ter assumido o Governo.

Uma parte dos deputados estaduais virgilistas ficoum com Gonzaga Mota, que tinha como vice-governador Adauto Bezerra, fruto da união dos Coronéis Virgílio Távora, Cesar Cals e o próprio Adauto, todos ex-governadores do Ceará pela força da Revolução de 1964. Virgílio, em 1962, antes do movimento revolucionário já havia sido eleito governador, indicado pela União pelo Ceará, como foi denominada a reunião de partidos que o apoiou, com o aval do governador da época, Parsifal Barroso, que por sua vez havia derrotado Virgílio na disputa eleitoral de 1958.

Gonzaga Mota ao ser escolhido candidato a governador, era secretário do Governo Virgílio Távora. Dizem que sua indicação teria sido uma imposição de dona Luíza Távora, primeira dama do Estado, posto ser o candidato da preferência do governador Virgílio Távora, o seu amigo de longas datas, Aécio de Borba. Adauto Bezerra, na época queria voltar a ser governador, mas não tinha o apoio dos outros dois coronéis (Virgílio e Cesar).

O rompimento de Gonzaga Mota com o seu padrinho político se deu a partir da disputa pela Presidência da República. Virgílio era Malufista e Gonzaga Mota, embora aliado de Aureliano Chaves, acabou ficando com Tancredo Neves. Mas outras questões locais também influenciaram no rompimento.

Aquiles Peres Mota, um dos virgilistas mais antigos, udenista como Virgílio, era o presidente da Assembleia Legislativa cearense quando deu-se o rompimento. Foi ele quem comandou a sucessão. A disputa, como foi, prenunciou-se como acirrada alguns meses antes da eleição propriamente dita, tanto que poucas horas antes da votação os dois grupos foram buscar os deputados de mais idade, para, em se dando o empate, o critério de desempate seria o da idade.

O pessoal do Virgílio foi buscar um deputado do MDB, Castelo de Castro, e Gonzaga Mota indicou Murilo Aguiar. As sessões da Assembleia eram à tarde. Mas logo pela manhã as galerias começaram a ser ocupadas. No fim da tarde, era uma balbúrdia só no Legislativo cearense. O temor era de troca de balas, naqueles anos ainda se falada em assassinatos por conta de disputas eleitorais. Mas a situação não chegou a tanto.

Na apuração dos votos as tensões chegaram ao ápice. O último voto anunciado por Aquiles Peres Mota, que deu a vitória a Castelo de Castro, ainda hoje sucinta questionamentos. Deputados ainda chegaram a trocar empurrões e até engalfinharam-se, mas o estado de saúde abalado de Murilo Aguiar, atraiu as atenções de todos. O coração dele não resistiu, embora não tenha parado de imediato. Os primeiros socorros foram prestados pelo deputado Raimundo Bezerra, cardiologista, que o acompanhou até o hospital, onde o óbito foi confirmado.

Castelo de Castro, embora tenha derrotado o candidato de Gonzaga Mota para a presidência da Assembleia, foi por este apoiado para ser eleito vice-governador do Ceará, como companheiro de Tasso Jereissati, o candidato de Gonzaga Mota para derrotar Adauto Bezerra, o seu vice-governador que concorreu com Tasso.