“Podemos produzir sem morrer. Vai morrer quem já está no grupo de risco”, disse Dr. Jaziel. Foto: Reprodução/Facebook.

Os posicionamentos do presidente da República, Jair Bolsonaro, têm gerado incômodo entre aqueles congressistas que até pouco tempo estavam do seu lado, apoiando suas medidas. O ponto alto do mal-estar causado pelas falas do chefe do Executivo se deu após o pronunciamento de Bolsonaro, na noite desta quarta-feira (25), quando ele defendeu que o comércio e as escolas, nos estados, voltassem a funcionar mesmo em meio a pandemia do novo coronavírus.

No Ceará, uma pessoa já morreu acometida da Covid-19 e outras centenas estão infectadas. O governador Camilo Santana, em suas redes sociais, na manhã desta quinta-feira (26), chegou a se posicionar contra medidas que afetem o plano de quarentena autorizado pelo Governo do Estado, e disse que a vida das pessoas devem estar em primeiro lugar.

O Blog do Edison Silva conversou com alguns deputados da bancada federal cearense que desde o início da atual legislatura tiveram um maior alinhamento com o Governo Federal. De acordo com o coordenador do grupo, Domingos Neto (PSD), a forma como o presidente da República vem se comportando tem se demonstrado “inoportuna”.

“Nós precisamos nos preocupar com a economia, mas isso tem que ser dialogado, pensado, com uma série de medidas para o retorno ao trabalho. Não pode ser feita assim, da forma como ele colocou“, apontou.

“De fato, temos que permitir que certas áreas voltem ao trabalho. Mas jogar isso, assim, sem planejamento, é arriscado”, destacou Neto. Questionado sobre o clima entre outros parlamentares, o deputado afirmou que não encontrou um colega seu que elogiasse a postura de Bolsonaro.

No entanto, o deputado federal Dr. Jaziel (PL) adotou uma postura em defesa das falas do presidente. “Para mim, ele não errou em nada”, disse o liberal. Segundo o médico, mais de 180 milhões de brasileiros estariam fora do grupo de risco e não sofrerão qualquer sintoma da doença. “A responsabilidade do presidente é grande, o entendimento que tomou não foi só da cabeça dele. Podemos produzir sem morrer. Vai morrer quem já está no grupo de risco”, afirmou.

“O povo que é um povo que tem menor idade, que goza de saúde, não vai morrer por causa dessa virose. Ele acertou plenamente. Não discuto como ele fala. Você imagine o que passa na cabeça dele, a condição psicológica. O que existe é um exagero para amedrontar o povo, pra chegar na situação de caos” – (Dr. Jaziel)

Ainda de acordo com o parlamentar, o governador Camilo Santana poderá estar errando caso mantenha decreto de quarentena no Ceará. “Se ele mantiver daquele jeito, ele estará errando. Não se pode falar em barreiras, em impedir que caminhoneiros cheguem no Estado. Nossa questão não é partidária. Nossa preocupação é com o nosso País”, defendeu.

Para Célio Studart (PV), o presidente da República ao fazer um alinhamento automático entre a balança sobre riscos imediatos, que é o colapso da saúde e mortes, versus risco futuro, forte recesso econômico, perde seu poder de liderança, sua credibilidade perante seus próprios assessores e ministros e “deixa na mão dos governadores uma decisão sanitária altamente complexa que deveria ter na figura presidencial um norte, e não uma perspectiva atrapalhada, nebulosa e contraditória”.

“Salvar o País”

Júnior Mano (PL) afirmou que Bolsonaro está sem liderança para conduzir o País. “Quando mais precisamos de um líder que una o País, mais ouvimos um presidente que luta contra inimigos imaginários. O povo preocupado em salvar as pessoas e o presidente preocupado em acirrar disputas políticas. Temos que seguir a orientação das autoridades sanitárias, eles têm a competência de dizer algo”, afirmou.

Segundo ele, a preocupação com a economia é importante, “mas não adianta salvar a economia, se você não tem um País”. “É hora de salvar o País. Depois cuidamos da economia. O Governo tem que bancar a manutenção da renda do trabalhador”, defendeu.

Saúde Pública

Um dos principais defensores de Bolsonaro no Ceará, o deputado Heitor Freire (PSL) disse que a intenção do presidente tem sido “tentar acalmar a população e não deixar a economia parar”. De acordo com o parlamentar, o momento exige atenção, cuidado e união. No entanto, ele destacou que o compromisso deve ser com a saúde pública.

“Precisamos ter cuidado com a vida do nosso povo ao mesmo tempo em que também não podemos deixar de nos ater aos empresários pequenos, médios e grandes, aos autônomos e à população, de um modo geral, que precisam trabalhar e não podem parar. Torço e me comprometo em fazer todo o possível para o breve restabelecimento total das atividades econômicas”, defendeu Freire.