Deputado Walter Cavalcante criticou o caráter politiqueiro das discussões. Foto: ALECE.

Sem matérias do Poder Executivo a serem deliberadas na pauta desta quinta-feira (06), dia de votação na Assembleia Legislativa, o assunto que domina corredores da Casa e microfones do plenário segue sendo a reestruturação da carreira dos policiais, que deve chegar ainda mês ao Parlamento.

Com uma nova manifestação de policiais na Assembleia marcada para esta quinta-feira, a expectativa é que o clima seja de tensão. Diante da crescente polêmica, vários parlamentares da base de Camilo Santana estão na defesa do governo e se pronunciaram na sessão desta quarta-feira (05).

Salmito (PDT) exaltou o diálogo de Camilo com a categoria da Segurança Pública. “Me questiono se houve algum governador que tenha dialogado tanto com os militares como o Camilo Santana, conhecendo e construindo pautas junto à categoria”, apontou.

O deputado Walter Cavalcante (MDB) criticou o que chamou de caráter político do debate. “Temos que tirar o discurso de caráter político desse debate. A discussão tem que ser transparente. Espero que ninguém venha nessa tribuna defender com sentimentos pessoais apenas uma categoria. Temos que pensar no bem estar de todos”, alertou.

Outro parlamentar que utilizou tempo na tribuna para defender o governo nessa questão foi Acrísio Sena (PT). Segundo ele, o Ceará é o único estado da federação que está buscando a valorização dos profissionais da Segurança Pública. “O Ceará, ao longo de seis anos, está fazendo uma mudança radical para melhorar as forças de segurança. O Governo do Estado é um ponto fora da curva. Nenhum outro busca melhorias como o governador Camilo Santana”, assinalou. Em aparte, Moisés Braz (PT) também teceu elogios à proposta do governador, colega de partido.

Cerca de 30 deputados governistas estiveram reunidos com Camilo Santana na terça-feira (04), justamente para tratar do assunto.

Diálogo

Líder da base na Casa, Júlio César Filho (Cidadania), reiterou que as portas para o diálogo seguem abertas. “Estamos abertos ao diálogo e vamos realizar mais reuniões com a categoria e acredito que acharemos um bom termo”, adiantou, lamentando que algumas pessoas estariam usando essa negociação para fazer politicagem e assim obter ganhos políticos.

Deputados Soldado Noelio e Júlio César Filho têm debatido o tema por diversas vezes durante a semana. Foto: Marcelo Bloc /Blog do Edison Silva.

Julinho afirmou ser justa qualquer luta por melhoria salarial, mas repetiu que, de 2015 para 2019, houve um aumento de 65% nos investimentos com pessoal. Para o deputado, o Ceará é exceção ao dar algum aumento à categoria, visto que apresenta bom equilíbrio fiscal. “Os demais estados não darão aumento algum ao servidor, muitos deles estão inclusive atrasando salário”, disse.

Paralisação?

O deputado Delegado Cavalcante (PSL) ressaltou a possibilidade de paralisação por parte da categoria. Ele lembrou que é policial civil há 40 anos e que conhece a realidade dos policiais. “Hoje o policial ganha mal e tem benefícios cortados pelo Estado, não tem apoio jurídico, mas é usado quando convém como ferramenta de política partidária do Governo”, disse, fazendo referência ao programa Ronda do Quarteirão e à ampliação do BPRaio para municípios do interior. “Foi o Governo do Estado quem criou essa crise dentro da Polícia, e é o Governo do Estado quem deve resolvê-la o mais rápido possível”, sentenciou.


Manifestação marcada

Porta-voz da classe, o deputado Soldado Noelio (Pros) afirmou que devem comparecer à galeria da Casa nesta quinta-feira mais servidores do que no último ato, no final do ano passado. Segundo ele, diversos ônibus estão se deslocando também do Interior para compor o movimento.

Ao microfone, Noelio voltou a criticar a proposta do Governo. Ele admitiu haver soldados recebendo R$ 4.800, como afirma a base governista. “O dado do governador é verdade, há policiais que ganham R$ 4.800, mas milhares ganham muito menos e estão à míngua, e é por eles que estamos lutando!”, bradou o parlamentar, emocionado, durante o tempo de liderança da sessão ordinária desta quarta-feira (05).

Segundo Noelio, o argumento de que nenhum outro Estado investe tanto em segurança, apresentado pela base governista, mostra apenas que o dinheiro vem sendo mal gasto. “São esses policiais que não estão ganhando R$ 4.800 que estão pedindo socorro. São mais de 30 mil policiais que acreditam em mim, são mais de 3 mil bombeiros. Eu vou estar com a categoria seja qual for a decisão que ela tomar”, concluiu. Em conversa com Blog do Edison Silva, Noelio não descartou a possibilidade de paralisação. “A categoria está bem insatisfeita”, explicou.

Desde a sessão plenária de terça-feira, o deputado Noelio foi visto diversas vezes conversando em particular com o colega Júlio César Filho, a quem novamente agradeceu a mediação das negociações. Noelio, no entanto, lamentou estar vendo o governo trabalhando para dar a entender à sociedade que as reivindicações da categoria não são justas.

Folha salarial

Segundo os dados apresentados pelo Governo do Estado, 44,46% do efetivo policial é formado por soldados, o que chega a um total de 8.594. Destes, tirando por base a folha de pagamento de dezembro de 2019, apenas 47 ganham menos de R$ 3.500 e outros 173 recebem entre R$ 3.500 e R$ 3.800.

Confira a tabela:

Faixa salarial em Reais – Número de soldados

. acima de R$ 7.000 – 30
. entre R$ 6500 e 7000 – 86
. entre R$ 6000 e 6500 – 105
. entre R$ 5500 e 6000 – 564
. entre R$ 5000 e 5500 – 1671
. entre R$ 4500 e 5000 – 1049
. entre R$ 4000 e 4500 – 1232
. entre R$ 3800 e 4000 – 3.637
. entre R$ 3500 e 3800 – 173
. abaixo de R$ 3500 – 47

“Temos soldados recebendo mais de R$ 6 mil, assim como R$ 4,9 mil, como consta no Portal da Transparência. Esses dados estão disponíveis para qualquer um consultar e confirmar que só ficamos atrás da Bahia em relação a despesa com o pessoal”, afirmou o líder do governo.

Júlio acrescentou ainda que aqueles soldados que ganham abaixo de R$ 3.500 provavelmente não atingiram as metas que recompensam os agentes, como apreensão de armas ou redução de homicídios por áreas. “Com essa nova proposta, esses policiais que não alcançam as metas passarão a receber R$ 4.200. Estamos buscando o equilíbrio para garantir com dignidade e reconhecimento a continuidade do trabalho desses profissionais. Vamos continuar dialogando para evitar que disputas políticas intervenham nesse processo”, concluiu.