Líder do governo defende que apoiadores do movimento grevista sejam responsabilizados por atos de violência que a população venha a sofrer por falta de policiamento. Foto: ALECE.

A paralisação de parte da Polícia Militar do Ceará e os fatos ocorridos na quarta-feira (19) na cidade de Sobral concentraram todos os pronunciamentos realizados na Assembleia Legislativa, na sessão desta quinta (20). Não houve exceção dentre os parlamentares quanto ao ato de lamentar os acontecimentos das últimas horas, principalmente a confusão que culminou com o senador Cid Gomes baleado ao tentar forçar a entrada no quartel da polícia, em Sobral. No entanto, houve troca de acusações de culpa dentre parlamentares da base aliada e da oposição.

Após discurso de abertura do presidente José Sarto (PDT), que afirmou que Cid foi vítima de um ‘fuzilamento covarde’, foi a vez do líder do governo na Casa, deputado Júlio César Filho (Cidadania) sair em busca de apontar culpados.

Sem citar nomes, Julinho disse que alguns poucos querem obrigar homens de bem da corporação militar a ‘participarem dessa ilegalidade, desses crimes, insuflados por alguns, trazendo medo e pavor à sociedade cearense’. O parlamentar criticou duramente os manifestantes aquartelados e as atitudes cometidas por eles em Sobral e compartilhadas nas redes sociais, como forçando o fechamento do comércio.

Para ele, o senador Cid, ‘vendo os absurdos ocorridos em sua cidade natal’, foi em busca de uma solução ‘para acabar com o terrorismo’, mas acabou ‘achincalhado pelos manifestantes, tomando inclusive um soco na cara’. Diante disso, tentou retirar portão com uma retroescavadeira e acabou vítima de uma tentativa de homicídio. “Quem apoiar essa barbárie é responsável por cada assassinato que ocorrer no Estado pela falta de policiamento”, bradou.

A deputada Patrícia (PSD), também sem citar nomes, afirmou que ‘pessoas tentam induzir o medo pelo movimento classista para atingir seus objetivos políticos’, afirmando ainda que alguns líderes do movimento não querer acordo, querem tumultuar.

Guilherme Landim (PDT) destacou o diálogo que foi aberto pelo governador Camilo Santana (PT), culpou o movimento paredista pela impossibilidade de qualquer diálogo nesse momento. “Cid foi achincalhado e esmurrado por uma manifestação que utilizava mulheres e filhos como escudo humano, como nem o Estado Islâmico fez. Tentaram três vezes fechar o Batalhão do Meio Ambiente e policiais não se renderam”, bradou. “Me recuso a votar proposta debaixo de bala”, concluiu.

Salmito (PDT) criticou o vídeo publicado pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros), em que ele afirma ter registrado um Boletim de Ocorrência (BO) contra Cid Gomes por depredação de patrimônio público. Para o parlamentar, Wagner utiliza a crise para fazer política. “Os deputados Soldado Noelio, Vitor Valim, o vereador Reginauro, todos do mesmo partido de Capitão Wagner, não tiveram essa postura. Ele não deveria fazer isso”, pontuou.

Disputa de poder

Citando nomes, Osmar Baquit afirmou que movimento é fruto de disputas de poder entre políticos com e sem mandato. Foto: ALECE.

Sem meias palavras, o deputado Osmar Baquit (PDT) não escondeu os nomes de quem considera responsáveis pelo comportamento de parte da tropa da PM. “Isso é uma briga interna entre o (ex-deputado federal) Cabo Sabino, entre o (deputado estadual) Soldado Noelio e entre o (deputado federal) Capitão Wagner, que, desmedidamente e por uma questão eleitoral, tentam tirar proveito dos policiais militares, levando a uma situação de inconstitucionalidade e de crime. Se você foi ver a greve de 2012, repete-se agora, com distribuição de dinheiro, porque é uma questão de disputa de comando”, afirmou ao Blog do Edison Silva.

Na tribuna e depois em entrevista coletiva, o pedetista não poupou Capitão Wagner de duras críticas. “Vem o Wagner dizer que trouxe uma deputada do Rio para negociar. Negociar o quê? Ele foi desautorizado pela tropa. Ele negociou, aceitou e parabenizou e a categoria não obedeceu a ele, então, ele não tem legitimidade para falar pela categoria. Eles perderam o comando e, na realidade, estão como barata-tonta”, afirmou.

Após o colega externar os nomes citados acima, Júlio Filho voltou ao microfone e falou que o trio ‘arcará com a responsabilidade por esse movimento’.

Paralisação inconstitucional

Para Tin Gomes (PDT), Cid foi muito claro desde o princípio, ao anunciar que iria a Sobral, via redes sociais, para dialogar com os manifestantes. “Está tudo filmado desde o início, quando ele chegou, a passeata com megafone em punho. Antes que acontecesse qualquer coisa ele levou um murro de um policial, está tudo registrado”, assinalou.

O parlamentar ressaltou que paralisação de Polícia Militar é inconstitucional, e que parlamentares não deveriam incitar esse tipo manifestação. “Não é a mesma coisa que uma greve de professores e, para além disso, os policiais, a minoria deles está fazendo terrorismo com a população. Toda vez que a polícia paralisou, teve morte e tiroteio”, afirmou.

Força não vai resolver

Para Renato Roseno (PSOL), a utilização da força, por ambas as partes envolvidas, em nada irá resolver. Delegado Cavalcante (PSL) chamou de autoritária e desmedida a atitude de Cid Gomes. “Infelizmente, o senador piorou a situação”, disse, afirmando que o comportamento dos policiais em Sobral foram fruto de atitudes isoladas.

‘Ainda bem que Sobral não tem tanque de guerra’

Sem deixar de condenar os manifestantes pela utilização de armas de fogo contra o senador Cid Gomes, o que considerou ‘injustificável e abominável’, o deputado Heitor Férrer (SD) fez duras críticas às atitudes do ex-governador do estado. Para ele, Cid cometeu um ato ‘tresloucado e criminoso’ ao tentar invadir o batalhão da polícia, depredando um bem público e colocando vidas em risco, inclusive a própria. “Como eu poderia me solidarizar diante de um tempo de guerra criado por um senador da República? Ainda bem que Sobral não tem tanque de guerra, não tem caças, pois hoje aquela unidade seria pó.”

Heitor Férrer chamou de tresloucada a atitude do senador Cid Gomes. Foto: ALECE.

Férrer afirmou que viu a atitude de Cid como um desrespeito à autoridade do governador Camilo, a quem elogiou pela disponibilidade pelo diálogo desde o início. “O que o Cid fez foi dizer que é o governador de fato. O Parlamento não pode chancelar um ato desse como de bravura”, bradou, sem atender a diversos colegas, aliados de Camilo e Cid, que pediam apartes.

Falta diálogo

Aparecendo no Plenário somente no final da sessão, Soldado Noelio (Pros) falou que o governo fechou as portas para qualquer negociação. Ele admitiu que houve sim negociação anterior, mas diante da tropa insatisfeita e paralisada, é necessário que haja humildade para uma nova rodada de negociações. “Temos que tentar parar de apontar os erros e buscar uma saída”, afirmou.