A deputada Augusta Brito defende negociação neste momento de crise, mas questiona: negociar com quem? Foto: ALECE.

Além de defenderem um lado ou outro na disputa entre policiais militares e o governo do Estado, deputados estaduais debateram nesta quinta-feira (20), na Assembleia Legislativa, formas de conseguir contornar a grave crise formada às vésperas do feriado do Carnaval.

A maioria dos parlamentares defende que, para que seja reiniciada qualquer negociação com a classe, as manifestações nas ruas e nos quartéis têm que ser encerradas. “Não negocia debaixo de bala”, bradou o líder do PDT na Casa, deputado Guilherme Landim. Já Salmito Filho (PDT) conclamou lideranças da situação e oposição para trabalharem visando que os manifestantes voltem ao trabalho para, aí sim, as negociações sejam retomadas.

O líder do governo na Assembleia, deputado Júlio César Filho (Cidadania), destacou a abertura para o diálogo por parte do governo desde o início das negociações. Ele conclamou os 46 deputados para se unirem com os policiais de bem e acharem uma solução para que se restabeleça a paz social no Estado.

A deputada Augusta Brito (PCdoB) destacou a necessidade de diálogo, mas questionou com quem o governo deve negociar, já que sentou com lideranças das associações da Polícia e com parlamentares ligados ao movimento e, após um acordo firmado, a tropa não aceitou e iniciou o motim. “Estive presente em vários diálogos do Governo com as categorias policiais, com acordos feitos e firmados com os ditos representantes de associações e categorias, mas pelo jeito eles não valeram. Então, com quem vamos conversar?”, indagou a deputada.

Entidades mediadoras

Em diferentes momentos na sessão desta quinta-feira, deputados propuseram a participação de entidades, externas ao problema, nas negociações, para que se possa avançar em um entendimento.

Renato Roseno (Psol) afirmou que a maioria da tropa não concorda com as atitudes que uma minoria vem tomando, então propôs uma comissão de deputados e instituições para restabelecerem as conversas com essa maioria, sem deixar de responsabilizar os abusos cometidos até aqui. Ele afirmou que o Ministério Público já tem demonstrado boa vontade em mediar a situação, assim como o presidente da Ordem dos Advogados do Ceará (OAB-CE), Erinaldo Dantas. Roseno afirmou que busca também a inclusão da Arquidiocese (Igreja Católica) nas conversas. “Estas instituições estiveram presentes nas negociações na greve de 2012”, lembrou ao Blog do Edison Silva.

Renato Roseno pede que entidades possam ajudar na mediação dos debates entre policiais e o governo. Foto: ALECE.

Para Audic Mota (PSB), assim como já havia proposto anteriormente, as lideranças das associações ligadas à PM têm que ser mudadas. “Só vamos sair dessa crise se o diálogo for retomado, estamos às vésperas do Carnaval. Precisamos nos sentar em uma mesa, com a participação deste Poder Legislativo, da igreja, de representantes militares, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para refazer este diálogo”, sugeriu.

Erro passado como causa

Heitor Férrer (SD) afirma que muito do que vem ocorrendo, somente acontece porque foram anistiados os envolvidos na greve da PM que assolou o Estado em 2012. “É um erro anistia policial que inflige a Constituição”, lamentou.

Desde o começo apontado como um dos líderes do movimento, seja pelo histórico dentro da Polícia, quanto por sempre tratar das questões dos policiais na Casa. Soldado Noelio (Pros) admitiu que o governo já negociou anteriormente mas, diante da insistente insatisfação da tropa, demonstrada com a paralisação de boa parte do contingente, é necessário que as negociações sejam retomadas. Ele conclamou os deputados para, unidos, buscarem uma solução.

Delegado Cavalcante (PSL) afirmou que é necessário que se retome o diálogo, mas sem marginalização da polícia. “Na crise, tem que ter diálogo. Se não querem mais ter diálogo com as associações, se elas perderam a credibilidade da tropa, há outras maneiras. Vamos para a Igreja, para algum lugar, temos que consertar isso. Desde o começo não incitamos a tropa em coisa alguma, inclusive o que eu ouvi da tropa é que eles querem diálogo, não estão confortáveis não. Ninguém gosta de parar”, pontuou.