Líder do governo na Assembleia, deputado Júlio César Filho, lê a Ordem do Dia na abertura dos trabalhos. Foto: ALECE.

“Se dizem que o ano só começa mesmo após o Carnaval, aqui tudo começa após a greve”. A frase, dita informalmente por um deputado na Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (27), retrata bem o momento na chamada Casa do Povo. Apesar de os deputados dizerem, sob as luzes dos holofotes da imprensa, que os trabalhos seguem normalmente, inclusive com sessões plenárias, o que se vê é preocupação com a resolução do problema da paralisação dos policiais militares, que já perdura quase duas semanas.

Deputados admitem que não há clima, no momento, para dar sequência à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará as associações estaduais ligadas à segurança pública. Mesmo a mensagem do reajuste dos policiais militares, enviada à Casa pelo Poder Executivo, após acordo com os que entendiam ser representantes do movimento dos policiais (posteriormente desfeito) segue meio que suspensa, aguardando uma definição da situação.

Pronunciamentos sobre o tema

A temática ainda domina os pronunciamentos na Casa, seja com críticas às lideranças do movimento paredista ou ao governo estadual. Nesta quinta, vários foram as questões relacionadas ao tema pelos deputados estaduais.

Romeu Aldigueri (PDT) parabenizou os policiais militares que garantiram a segurança dos foliões cearenses no Carnaval. “Cumprimento os valorosos companheiros da Polícia Militar que, mesmo diante do movimento paredista, trabalharam diariamente para salvaguardar a vida dos cearenses”, destacou o parlamentar.

O deputado Fernando Hugo (PP) criticou as influências políticas na paralisação dos policiais militares do Ceará, o que dificulta a negociação com os amotinados, segundo ele. “Transformaram a Polícia Militar do Ceará em verdadeiros currais políticos. Quem quer o bem estar da sociedade não pode politizar essa situação, transformar isso em atos políticos. Eu vi o ofício do governador solicitando ao presidente apoio Federal, sem levar à mesa as diferenças políticas, que sabemos que existem”, afirmou o deputado.

O deputado Delegado Cavalcante (PSL) lamentou comentários do ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes em redes sociais durante o Carnaval, culpando a presidência da República pelo acirramento das discussões com os policiais e tendo chamado o presidente de “canalha e chefe de milícia”. Para o deputado, o presidente Bolsonaro tem feito muito pela categoria dos policiais e por toda a sociedade, no sentido de “consertar o desmonte feito pelos governos anteriores”. Cavalcante lamentou ainda o que chamou de ‘criminalização da categoria’.

Heitor Férrer (SD) ressaltou a necessidade de uma política de combate à violência no Ceará, destacando que o motim da PM fez com que o número de homicídios voltasse a crescer no Estado. “Esse motim inconstitucional demonstra que o trabalho da polícia é que combate todo o crime. Quando a polícia sai de cena, a violência volta como se fosse uma infecção”, afirmou. Ele cobrou que o governo volte a divulgar o número de homicídios no Estado desde o início da paralisação.

Queiroz Filho (PDT) destacou que qualquer combate à violência passa pela adoção de uma série de ações intersetoriais, e que o Governo do Ceará tem promovido essas medidas. Para o parlamentar, a desigualdade social é um dos elementos mais significativos para a escalada da violência, e o governador Camilo Santana tem realizado uma série de ações que visa contribuir no combate a esta desigualdade. “Foi criado o programa Ceará Pacífico, que tem um viés não só de repressão, mas de permitir a criação de ambientes mais harmoniosos para a vida em sociedade”, apontou.

Carlos Felipe (PCdoB) manifestou otimismo com os novos atores que se rearticulam para a construção de diálogo com a categoria de militares do Estado. “O Poder Legislativo tem o seu papel, e a Assembleia não pode se furtar dele. Ela tem que continuar procurando encontrar as melhores soluções para sairmos desta crise de forma coerente e responsável”, salientou.

Apóstolo Luiz Henrique (Progressistas) e Dra. Silvana (PL), parlamentares ligados à Igreja Evangélica, cobraram participação de ‘membros ligados às igrejas’ nas negociações que buscam chegar a um consenso com os policiais amotinados. “Quero estar nas negociações e ver a proposta ser debatida para poder votar sabendo que a categoria está satisfeita”, afirmou Silvana. “Peço ao governador Camilo Santana e a esta Casa que permitam que possamos intervir e por fim nesse movimento de maneira pacífica. Acredito que, com calma e cuidado chegaremos a isso”, disse o Apóstolo, já no tempo da Ordem do Dia.

Audic Mota (PSB) destacou a retomada das negociações com representantes militares do Estado. Segundo o parlamentar, os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –  estão agindo em conjunto para retomar os diálogos, agora com um novo negociador por parte da Polícia.

O deputado Leonardo Araújo (MDB) elogiou a postura de isenção da Assembleia Legislativa na tratativa da paralisação dos policiais militares. Ele cobrou ao Governo Federal que prorrogue o prazo das Forças Armadas no Ceará, enquanto as negociações ainda estão sendo realizadas.