Renato Roseno é o único deputado estadual do PSOL no Ceará. Foto: ALECE.

Pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2020, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL) conversou com o Blog do Edison Silva sobre os desafios do partido nas eleições do ano que vem.

Segundo Roseno, existe uma demanda de um novo ciclo de esquerda para o Brasil e o PSOL precisa saber trabalhar em cima disso. “Nós temos a tarefa de apresentar um projeto de esquerda para o Brasil do Século XXI. É essa a tarefa do PSOL. Existe um eleitorado que quer uma nova esquerda. Nossa tarefa é ter a capacidade de juntar. Nós temos as tarefas de eleger vereador, fazer frente ao fascismo e apresentar um novo projeto de esquerda para o país”, afirmou.

Para o deputado, os acontecimentos mais recentes no país fizeram crescer esse sentimento de uma necessidade de uma nova força progressista.

“Existe uma demanda de um novo ciclo de esquerda para o Brasil. Essa é a nossa diferença em relação ao petismo. Porque o PT, hoje, por muitos motivos, pelo golpe, a prisão do Lula, ele acabou hoje moldando uma narrativa em que ele só olha para o Brasil no passado, do tempo em que o Lula e Dilma eram presidentes. Você já analisou semioticamente aquele slogan do Haddad, “pro Brasil ser feliz de novo”, ele remonta a uma certa saudade do passado. Veja, nós fomos contra o golpe, nós levamos muito a sério no “Não vai ter golpe”, tanto é que, em 2018, nós denunciamos: como é que o PT fez aliança com golpistas em vários locais do Brasil?”.

Capitão Wagner x Ferreira Gomes

Renato discorda de quem acredita que as eleições majoritárias em Fortaleza, no ano que vem, ficarão concentradas apenas em dois grandes polos eleitorais. “Eu não acho, ao contrário de vários analistas, que a eleição vai ficar entre o Capitão Wagner e o candidato dos Ferreira Gomes. Eu não acho que seja adequado fazer essa previsão hoje. É muito indefinido, quem se arvora ao poder mediúnico de achar o que vai acontecer daqui um ano, eu não tenho esse poder e acho que ninguém tem. Tem muita coisa para acontecer até lá”, questiona.

Para ele, há uma série de particularidades nas eleições de 2020. A primeira, cita, é a nacionalização do discurso, quase como se fosse um terceiro turno de 2018. “Eu acho isso ruim, do ponto de vista dos grandes debates da cidade, mas por outro lado é a continuidade dessa disputa política que foi colocada”, explica.

Outro ponto importante destacado é o fato de ser a primeira eleição sem coligação proporcional. “Aqueles partidos que só funcionavam para negociar o seu próprio tempo, eles tendem a desaparecer ou nesta e nas próximas eleições, serão chamados para convocar a sua identidade ou não. Isso vai, então, ampliar o número de candidaturas majoritárias, porque sem candidaturas majoritárias, não tem candidato proporcional com fôlego”, acrescenta.

Nesse sentido, Renato não vê grandes diferenças para o partido em si. “Nós do PSOL, tradicionalmente caminhamos sempre sem coligações proporcionais, com coligações apenas com partidos com o nosso perfil ideológico. A gente deixou de eleger o Ailton (Lopes) em 2016 por 400 votos, eu fui o segundo mais votado para deputado federal, em 2010, com 114 mil votos e não fui eleito. Teve gente que teve metade dos meus votos e foi eleito. Isso para nós é tranquilo, de como é que é enfrentar uma eleição sozinho”, explica.

Problemas de Fortaleza

Roseno espera que a Capital seja discutida no pleito do ano que vem. “Fortaleza tem inúmeros problemas. O principal deles é a segregação sócio-espacial. É uma das cidades mais desiguais das Américas. Isso se vê na divisão territorial, uma cidade em que um milhão de pessoas estão no cadastro dos programas sociais do Governo Federal. Por isso que a economia do setor público aqui é tão importante, para alocar e distribuir. Nós precisamos de uma forte agenda de investimento nos territórios. Nós estamos hoje com 860 assentamentos precários, precisamos chegar nesses assentamentos com menor IDH, com muito investimento público”, sentencia.

Segurança

O deputado entende que um dos debates centrais da campanha será a questão da segurança. “A melhor coisa que o município pode fazer em prol da segurança é melhorar a qualidade da cidade. Esse é um debate importante, não permitir que a cidade seja capturada por uma lógica de enfrentar os problemas de segurança meramente por coerção”, explica.

Recesso econômico

Outro fator apontado pelo psolista, como importante para as eleições em 2020, é o econômico. Para ele, o cenário é de recesso e há que se buscar formas de ampliar a capacidade de investimento dos municípios. “O relatório publicado pela OCDE diz que 2019 é o pior ano de crescimento da economia mundial desde 2008, iguala-se, inclusive, à crise de 2008. As cidades dependem muito de investimento externo, porque no Brasil a concentração de recursos na União Federal é muito grande, e um possível cenário de recessão nos obriga a pensarmos em saída. Temos que pensar em como é que uma reforma tributária municipal pode dar conta, inclusive, de ampliar a nossa capacidade de investimento”, afirma.

A reforma trabalhista recente no país foi, inclusive, um exemplo criticado pelo parlamentar. “A reforma trabalhista foi um fracasso gigantesco em produção de empregos. Ou seja, o problema do estoque de mão de obra no Brasil não era porque havia direitos demais, era porque havia atividade econômica de menos, essa era a questão”, explica.

Meta do PSOL

Para Renato Roseno, a meta do partido é conseguir retornar à Câmara Municipal. “Nós queremos estar na Câmara Municipal de Fortaleza. Acho que o pessoal faz falta lá. Temos uma chapa boa, são todos nomes muito bons, que têm inserção social e que podem ser bons candidatos. Nós queremos eleger pelo menos dois vereadores na Capital, essa é a grande tarefa”, revelou.