O governador Camilo Santana, embora ainda filiado ao PT, será um dos quatro integrantes do grupo governista (Roberto Cláudio, Cid e Ciro Gomes) responsável pela escolha do candidato à sucessão do atual prefeito, bem como a formação das alianças e a estratégia da campanha. Em razão das eleições estaduais de 2022, Camilo tem grande interesse em ser partícipe ativo desse momento. Ele, se pedir a adesão do MDB, como o próprio Eunício Oliveira, principal liderança do MDB cearense, já teria afirmado a interlocutores, terá. Custa pouco ao governador essa intervenção. E para o MDB, inegavelmente, é uma substancial ajuda para sair bem menos fragilizado da disputa municipal no Estado.

Fora do abrigo do governador, o resto do MDB no Interior cearense ficará deveras vulnerável às investidas de dirigentes de siglas governistas, notadamente do PSD, do PP e até mesmo do PDT. Sob as bençãos de Camilo, os liderados de Eunício podem dizer que estão no Governo e, nessa condição, terão menos tentação de deixar a sigla, mesmo que as outras agremiações aliadas imponham suas forças para elegerem os próprios filiados, o que é natural em alianças tão díspares, como as formadas sem os devidos compromissos programáticos, nem muito menos os ideológicos, coisa raríssima na política nacional.

Também é importante, para o grupo governista, uma adesão do MDB à aliança de sustentação ao candidato do prefeito. Se pouco ou muito pouco em voto pode o partido de Eunício oferecer, dada a sua pequena familiaridade com o eleitorado da Capital, o fato de o espaço que tem o partido na propaganda eleitoral não ser dado a outro candidato, ajuda. A propósito, também não é fácil para ex-senador Eunício Oliveira coligar-se com o deputado federal Capitão Wagner ou com a também deputada federal Luizianne Lins. Com ambos ele tem rusgas de eleições passadas.  Com Wagner foi na última eleição municipal, e com Luizianne, quando ele elegeu-se senador, e pouco foi o empenho dela, mesmo tendo indicado o primeiro suplente, Waldemir Catanho.

O MDB cearense só não está totalmente isolado na política cearense por conta da atenção dispensada pelo governador Camilo Santana ao ex-senador Eunício Oliveira. Desde o desaparecimento do ex-prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães, o partido só tem sofrido baixas nas disputas na Capital, ao ponto de ter uma representação numericamente insignificante no Legislativo municipal. Camilo, desde o pleito passado, ainda é quem garante ao partido sofrer menos defecções, inclusive por manter no seu secretariado pessoas diretamente ligadas a Eunício, embora sem qualquer expressão político-eleitoral.

O prefeito Roberto Cláudio, por razões óbvias, tem evitado falar sobre a sua própria sucessão. Isso, porém, não significa dizer que o tema esteja fora de sua pauta. Ao contrário. É tão importante para o seu projeto político, cuidar de preparar a sua sucessão quanto investir nas obras da administração. O sucesso da gestão, claro, reflete fortemente no sucesso da sua pretensão eleitoral. As próximas conversas dele, reservadas e conjuntamente com Camilo Santana, Cid e Ciro Gomes, avançarão na definição de nomes para a disputa sucessória, com o apoio dos números das várias e amplas pesquisas quantitativas e qualificativas.

Nenhum dos quatro líderes governistas falará sobre o avanço de suas conversas e avaliações. A pretensão deles é manter o suspense quanto a nomes até os três primeiros meses do próximo ano, tempo suficiente para armazenarem as informações das pesquisas sobre todos os que forem apresentados como pretensos candidatos. Pelo Calendário Eleitoral, já a partir do início do mês de abril vindouro, os prazos de desincompatibilizações para os prováveis candidatos já não mais permitirão segredos sobre nomes de postulantes aos cargos de prefeito e vice-prefeito.