Ministro Alexandre de Moraes, em palestra em São Paulo, no Congresso Brasileiro de Direito Processual Empresarial, defendeu a mudança de cultura do Judiciário brasileiro. Foto STF.

“A família jurídica brasileira tem que ir para o divã para curar o trauma causado pelo fato de termos vivido quase sempre em regimes de exceção.” A prescrição foi feita nesta sexta-feira (16/8) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, durante o “1º Congresso Brasileiro de Direito Processual Empresarial“, organizado e sediado pela Faap (Fundação Aramando Álvares Penteado, em São Paulo).

Moraes fez a palestra de encerramento do evento e falou com forte ênfase da necessidade de o Poder Judiciário do Brasil mudar de cultura. Deixar de priorizar a “beleza da discussão” e passar a se focar em atingir resultados.
“Muitas vezes é mais importante que haja uma decisão, mesmo que errada. Melhor do que não ter decisão nenhuma. Isso deixa as pessoas seguirem em frente”, disse.
O ministro do Supremo alertou para a necessidade de que o Judiciário tenha como foco maior resolver os casos de forma rápida e que para isso é necessário enterrar a ideia de que seguir precedente é retirar independência do juiz.
“Ninguém diria que o juiz inglês não tem independência, apesar de sempre seguirem fielmente os precedentes. Ter que torcer para qual juiz vai cair o caso não é Justiça. No Brasil se confunde independência judicial com anarquia de juiz. É preciso se criar uma cultura de se seguir súmula, repercussão geral, precedente e criar segurança jurídica”, afirma.
Para exemplificar, Moraes contou que até o ano passado era comum pessoas entrarem com Habeas Corpus até cair com um ministro que teria um entendimento que se adequava à tese de defesa. Uma mudança do regimento interno passou a mudar isso.
Situações iguais devem ter resultados iguais — afirmou o ministro Alexandre de Moraes
Assumir responsabilidade
O ministro disse também que os constituintes tiveram a sabedoria de dar ao Poder Judiciário o papel de mediadores de conflitos da República. Os dois processos de impeachment, segundo Alexandre de Moraes, demonstram o acerto da decisão.
“Até a Constituição de 1988, quando havia conflito entre Legislativo e Executivo, as Forças Armadas eram chamadas para mediar. Isso gerou estado de exceção e ditadura. O constituinte olhou para o passado e viu se não colocasse um mediador, um novo conflito entre Executivo e Legislativo produziria outro estado de exceção”, disse.
Novos poderes, novas responsabilidades. O ministro ressalta que se antes de 1988 o Judiciário não tinha tanta interferência na vida nacional e passava quase desapercebido, hoje em dia tem o dever de assumir o papel e resolver os conflitos.
“Quem é muito acionado e analisa tudo deve se preocupar em resolver e gerar segurança jurídica”, afirmou.

Do site Conjur