Djalma Pinto. Foto: ALECE

Acompanhe artigo do advogado, jurista e escritor Djalma Pinto, especial para o Blog do Edison Silva.

Como parte da campanha “Desmascare os Corruptos”, a ONG não governamental, com sede em Berlim, Transparência Internacional, em 2016, promoveu uma votação de âmbito internacional pela Internet que resultou na designação do escândalo da Petrobrás como o 2º maior caso de corrupção do mundo. Ficou atrás apenas do ex-Presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, primeiro colocado na preferência dos 4,5 milhões de votantes.

A epidemia de corrupção, exibida no Brasil nas últimas décadas com absoluta indiferença das instituições, antes do surgimento da Operação Lava Jato, provocou uma reação surpreendente de ruptura na comunidade política. O espantoso desperdício do dinheiro público sob a guarda de políticos, que sempre apostaram exitosamente na impunidade, levou os eleitores a colocar no comando do Executivo um deputado do baixo clero, que se recusou a receber propina de empreiteiras envolvidas com desvios de verbas públicas.

A opção dos cidadãos por um outsider, sem apoio de partido e sem utilizar dinheiro dos contribuintes na campanha, foi ainda motivada pela percepção de que, dos seis ex-Presidentes vivos, que governaram o País após a vigência da Constituição de 1988, apenas FHC não se achar indiciado, denunciado ou preso por corrupção, a despeito das denúncias feitas pela oposição ao seu governo, não apuradas quando esta assumiu o poder. Sarney, Collor, Lula, Dilma e Temer, todos estão ajustando contas com a Justiça por atrito com o Código Penal.

Não foi, portanto, sem justificada explicação que o povo fez a opção por Jair Bolsonaro. Eleito, cumpriu ele a promessa de abolir o “toma lá dá cá”, invocado como pretexto para garantir a governabilidade. Nos seis meses de governo, baixou os juros, reduziu a inflação, introduziu o 13º salário no Bolsa Família, expandiu acordos comerciais, efetivou privatizações, estabilizou as contas públicas, assegurou transparência nas operações de crédito do BNDES, BB e Caixa Econômica, enfim, tem buscado implantar um ambiente propício para a retomada dos investimentos necessários à geração de emprego.

Há, porém, um visível desconforto na população, inclusive, entre os seus eleitores por manter, como Presidente, a mesma postura que adotara como Deputado Federal. Na Câmara, é compreensível, podia ele falar com a visão voltada apenas para os seus simpatizantes. Como Presidente de todos os brasileiros fala em nome da Nação. Por ser o Chefe do Poder Executivo, tudo o que disser repercute intensamente. Para o bem ou para o mal, está fazendo escola na formação de nossa cultura política.

O cargo de Presidente, é imperioso reconhecer, exige de seu ocupante, não raro, o sacrifício da própria liberdade de expressão. Aliás, na sabedoria da Bíblia, encontra-se a advertência de Deus para inspirar aqueles que buscam a realização do bem na terra: “para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar” (Eclesiastes 3:1-7).

A observância desse simples ensinamento permite evitar que ciscos insignificantes sejam transformados em enfermidade para extração dos olhos. A legitimidade para o exercício do poder, mesmo quando emanada de forma cristalina das urnas, acaba fragilizada em decorrência da reiteração de frases mal colocadas pelo governante ungido à condição de Chefe do Executivo pela vontade soberana do povo. Manifestações que causam desconforto, inclusive, no cidadão que o aplaudiu, nele votou e torce pelo seu êxito, precisam ser evitadas.

O silêncio presidencial, em determinadas circunstâncias, pode ser a arma mais eficaz para o êxito da governança e a pacificação da sociedade. A propósito, Zun Tzu já ensinara: “A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”. A chave para o sucesso, nesse momento de acirramento dos ânimos na sociedade, pode residir na canalização de toda energia na contenção de palavras desagregadoras. Objetivo fácil de ser alcançado pela fixação do foco central de sua linguagem na divulgação dos feitos relevantes do governo que preside.

Advogado e autor do livro Ética na Política.