Para Roseno, a atitude do Governo Federal caracteriza-se por uma intromissão na autonomia universitária. Foto: Edson Júnior Pio/ALECE.

O deputado Renato Roseno (PSOL) manifestou, durante o primeiro expediente da sessão plenária da Assembleia Legislativa desta quarta-feira (17), descontentamento com a decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, de anunciar a suspensão de vestibular para pessoas trans na Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). O processo seletivo reservaria 120 vagas ociosas, destinadas a transgêneros e intersexuais, muitas delas no estado do Ceará.

“Foi uma intromissão na autonomia universitária. Veja, eram vagas ociosas, vagas sobrantes, já tinha passado o processo do Sisu e essas vagas não foram preenchidas. Há um reconhecimento de que existe um segmento populacional com muito pouco acesso ao ensino superior e, usando da sua autonomia, a comunidade universitária escolheu realizar esse processo excepcional”, explicou o deputado, em conversa com o blog.

Para Roseno, o ato da Unilab era inovador e criativo, contemplando um segmento populacional que não tem acesso à educação superior. O parlamentar salientou que a medida reflete como o País ainda está atrasado em matéria de valorização da educação, ciência e tecnologia. “Temos um chefe de Estado que desonra os mínimos valores humanos”, criticou. Ainda de acordo com o deputado, não há país democrático desenvolvido que não invista em educação. “E esse investimento pressupõe que nem todos têm acesso a essa educação, por isso precisa haver políticas afirmativas de acesso”, pontuou.

Renato Roseno assinalou que “a história da educação brasileira é feita de segregação e desigualdades, sendo fundamental constituirmos políticas para superá-las e que permita o acesso de todos”. Conforme destacou, são três os elementos que conjugam o direito à educação, que passam pelo direito ao acesso, à permanência e à qualidade do ensino. “Nada disso importa ao governo atual, que a todo tempo estimula o polemismo conservador, para manter a lealdade dos apoiadores, já que ele não tem proposta para um Estado-Nação”, considerou.

Governo pautado pela polêmica

Em entrevista ao blog, Roseno disse ainda que a atitude do governo federal faz parte de uma estratégia pensada, focando em temáticas polêmicas. “Na verdade, a resposta dele (presidente) não é uma resposta à universidade, é que ele tem que manter cativo o seu público. A lógica é essa. Nós temos que entender a metodologia pela qual o Bolsonaro pensa. Todo dia ele faz uma polêmica e, como ele é vazio de conteúdo, ele tem que apostar na polêmica para se manter em visibilidade, porque ele não tem nada para propor para o país”, disse o parlamentar. Para ele, o fato de a Unilab ser uma universidade jovem, ainda com reitor pro tempore, facilitou que esse tipo de atitude tenha sido imposta.

Ouça a declaração do deputado: