O ex-governador Ciro Gomes (PDT) candidato a presidente nas últimas eleições, usou sua conta oficial no Facebook para fazer uma transmissão, ao vivo, na qual respondeu perguntas de vários seguidores de suas redes sociais. Pouco depois das 19h (Horário de Brasília), desta terça (04), aparentando bom humor, Ciro começou sua transmissão respondendo sobre sua recém cirurgia de próstata, mas logo em seguida, o futuro governo Jair Bolsonaro entrou no foco de sua fala.

“Precisamos respeitar a escolha do povo brasileiro. É democrático que a gente respeite. Dito isso vejo que os primeiros sinais não são bons pois temos uma dívida pública muito elevada, obras paradas pelo país, mais de 13 milhões de desempregados(…). São vários problemas graves que não serão de fácil solução. E o que nós estamos vendo acontecer? O Bolsonaro parece que está reservado para si um papel único, um papel de relações públicas, de agitador, de animador de auditório na Presidência da República, e o poder real está delegando para os super ministérios da Economia e da Justiça e Segurança Pública (Paulo Guedes e Sergio Moro)”.

Ciro também criticou a condução política da equipe de transição. Ele pensa ser pouco provável que dê certo a construção do governo como está sendo, já que, na sua opinião as escolhas estão acontecendo sem diálogo, com pessoas inexperientes. Ele reforçou também a necessidade de que os governadores sejam ouvidos “Deveria aproveitar esse momento inicial quando o presidente está forte para ouvir os partidos, não da forma como a Dilma andou fazendo, desconsiderando as lideranças partidárias. Você não pode mais negociar nas bases que o PT negociou e o Fernando Henrique negociou porque deu no que deu, loteamento, corrupção, fisiologismo. É preciso trocar essa negociação por um pacto de governadores,  por diálogo e os governadores precisam ser ouvidos”.

Sobre a equipe ministerial o ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional não foi tão crítico quanto a presença dos militares, lembrou da tradição da boia formação e da conduta militar, no entanto, sua artilharia foi centrada em Paulo Guedes e Sergio Moro, a quem disse relativizar a corrupção em casos ligados à pessoas do futuro governo.

“Até aqui você tem um núcleo militar em posições estratégicas, eles costumam ser pessoas ilibadas, pessoas honradas. Não quero examinar pessoa a pessoa, mas sem manhas e experiência na política. O Paulo Guedes é uma pessoa muito conservadora que não conhece o Brasil, não conhece o serviço público do país. Na Fazenda, Colocar a Indústria e o Comércio e o Planejamento junto com Fazenda é um erro grave, porque o Planejamento controla o Orçamento e a Fazenda arrecada, a Indústria e o Comércio estimula a indústria e o comércio exterior. São três tarefas diferentes e antagônicas uma das outras, por isso que se organizou dessa forma para que o presidente, sabendo o que fazer possa mediar os conflitos e arrumar tudo. Agora tudo ficou na mão do Ministério da Fazenda, cuja tendência é guardar o dinheiro.

O Moro é uma pessoa publicitária. É encarregado de duas grandes tarefas.  Como é que ele vai tratar os fenômenos de corrupção no governo? Os primeiros sinais não são bons pois dão mostras de que ele parece que vai relativizar os valores e está imaginando, talvez, manipular as estruturas da Polícia Federal para perseguir adversários e isso, de fato, ninguém vai tolerar. Segundo tem a questão da segurança pública. Ele não dá uma palavra sobre isso e essa é a grande demanda da sociedade brasileira”.

Outro tema abordado na transmissão foi a relação com o Partido dos Trabalhadores. Ciro lembrou sua trajetória ao lado da sigla e do ex-presidente Lula, e acusou o partido de ter utilizado   “fake news” durante a campanha eleitoral de 2018. O político reiterou que não tem mais condições de voltar a aliar-se ao PT. “O PT meteu dinheiro na campanha, meteu fake news na internet e não contra o Bolsonaro, mas contra mim. O PT fez o diabo.

Chantageou o PCdoB para tirar a Manuela, sacrificaram o Márcio Lacerda e a Marília Arraes para obter uma neutralidade do PSB para diminuir meu tempo na propaganda. Me escolheram como adversário de forma mesquinha e depois que acham que sou obrigado, depois de 20 anos, a repetir. Entre o fascismo e a corrupção, que a cúpula do PT representa, optei por sair. Enquanto essa cúpula do PT estiver dando as cartas, não contem comigo”.